NewsGeneration: um serviço oferecido pela RNP desde 1997


ISSN 1518-5974
Boletim bimestral sobre tecnologia de redes
produzido e publicado pela  RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
17 de setembro de 1999 | volume 3, número 5

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Nesta edição:

NewsGeneration:



Soluções Alternativas Usadas na Rede de Comunicação da UFF

Michael A. Stanton <>

Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)

Introdução
Rede de comunicação de dados
Telefonia
Outras aplicações (TV e rádio)
Lições
Agradecimentos
Referências bibliográficas
Anexo 1: mensagem à lista Big-LAN

Tradicionalmente, a montagem de redes de comunicação para uso privado tem se restringido à criação de infra-estrutura apenas dentro dos locais ocupados pela própria instituição, e o problema de interconexão entre estes locais, no caso de uma instituição distribuída, é resolvido através do aluguel de canais de comunicação de uma empresa operadora de telecomunicações.

Este artigo descreve algumas alternativas não convencionais adotadas pela Universidade Federal Fluminense, cujas instalações na cidade de Niterói se espalham por mais de 16 locais distintos. Estas incluem o uso de canal de rádio para efetuar sua comunicação externa à Internet e a montagem de uma rede óptica própria, de grande capacidade de transmissão e 24 Km de extensão, que servirá de esteio para todos os serviços de comunicação interna. O artigo relata o desenvolvimento do projeto da rede óptica, incluindo aspectos administrativos, descreve os diferentes serviços de comunicação que são e que passarão a ser oferecidas através dela, e ainda apresenta propostas para a futura administração de serviços nesta área.

Palavras-chaves: Projeto e administração de redes privadas; rede aérea de fibra óptica; enlaces de rádio; integração de serviços de comunicação.

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Introdução

Já foram examinados, na literatura técnica [ARMS88, STAN92], os problemas de integração em rede de dados dos computadores distribuídos num campus universitário, onde a instituição tem controle total da tecnologia e dos meios de transmissão utilizados. Por exemplo, em [STAN92] foi examinado o caso da rede interna da PUC-Rio, que tem a característica de reunir todas as suas atividades num único campus. Neste caso, a adoção e eventual modificação de determinada tecnologia de transmissão é facilitada, pois poderá ser modificada arbitrariamente a configuração do meio físico adotado, com a substituição e extensão deste.

Tradicionalmente, o caso de instituições distribuídas, onde as atividades se desenvolvem em mais de um campus, tem sido de mais difícil solução. A opção mais comum tem sido montar individualmente uma rede em cada campus, e depois procurar estabelecer comunicação entre estas, normalmente através do aluguel de serviços de telecomunicações de uma empresa operadora. Estes serviços seriam de banda limitada, e, até pouco tempo, relativamente caros. Em certos casos, esta alternativa seria a única disponível, por causa da distância entre os campi.

A Universidade Federal Fluminense (UFF), é uma instituição altamente distribuída, pois, além de possuir campi em mais de dez cidades do interior do estado do Rio de Janeiro (e um em Oriximiná, Pará), a própria sede da universidade em Niterói está instalada em mais de 16 locais espalhados pela cidade, sendo a maioria próximos do centro (v. Figura 1). Estes locais incluem a Reitoria, 3 campi tradicionais, o hospital universitário, e diversos imóveis menores onde estão instaladas uma ou mais das suas unidades componentes.

Figura 1: A Localização da UFF em Niterói


1 Reitoria

2 Campus de Gragoatá

3 Campus da Praia Vermelha

4 Campus do Valonguinho

5 Instituto de Artes e Comunicação Social (IACS)

6 Faculdade de Economia

7 Faculdade de Direito

8 Instituto de Lógica e Teoria de Computação (ILTC)

9 Escola de Enfermagem

11 Hospital Universitário Antônio Pedro

12 Faculdade de Farmácia

13 Faculdade de Veterinária

Este artigo tratará da análise do problema de comunicação interna da sede da UFF em Niterói, e das soluções encontradas para resolvê-lo. Uma das características muito marcantes deste problema foi a grande dependência da UFF de serviços de telecomunicações, prestados até agora pela Telerj, antiga empresa do grupo Telebrás, e recém privatizada como Telemar. A UFF dependia totalmente da antiga Telerj para viabilizar a comunicação entre seus campi, tanto para comunicação de dados, como para voz, quer seja através de LPs (linhas privadas), quer seja através de telefonia comutada. Seu custeio mensal com serviços prestados pela antiga Telerj a fazia o maior cliente desta empresa em Niterói. Aparentemente uma reformulação significativa da comunicação interna da UFF somente poderia ser realizada com a participação da antiga Telerj.

Em outro artigo publicado em junho de 1994 [STAN94], o autor analisou o então estado de comunicação da UFF, focando especialmente a comunicação de dados e a telefonia, e fez uma série de propostas de como deveria ser reformada a infra-estrutura de suporte a estas atividades. Esse artigo teve uma divulgação ampla e serviu como uma espécie de plano diretor informal, pelo menos para a área de comunicação de dados, que evoluiu significativamente desde a data da sua publicação.

O artigo de 1994 previu a importância crescente do uso das redes (e, especialmente, da Internet,) para as atividades da universidade, e apontava onde deveria ser feito investimento dentro da UFF para poder acompanhar a evolução das novas tecnologias, especialmente em respeito à expansão da sua capacidade de transmissão e do seu leque de aplicações. As principais propostas incluídas nesse artigo foram:

A seguir, será feito um exame de cada um destes itens, relatando o que foi feito e vem sendo realizado atualmente, e tentando identificar onde ainda há espaço para aprimoramento.

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Rede de comunicação de dados

CONEXÃO À INTERNET

Em 1994, a conexão externa da UFF à Internet (via a Rede-Rio da Faperj) era uma linha de 64 Kbps (quilobits por segundo) da antiga Telerj entre o Núcleo de Processamento de Dados (NPD) no campus do Valonguinho e o backbone da Rede-Rio no Laboratório Nacional de Computação Científico (LNCC/CNPq) no bairro da Urca, na cidade vizinha do Rio de Janeiro. Este enlace foi instalado em 1992 pela Faperj, que custeava seu aluguel, e, até o início de 1999, ele ainda existia, embora a administração da outra ponta tenha passado para o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/CNPq), no mesmo local. Até abril de 1998, esta linha servia a todos os usuários da universidade, e estava muito congestionada por causa do crescimento da demanda.

Uma das razões para o crescimento da demanda foi o aumento geral da capacidade das redes que compõem a Internet. A partir de 1994, tanto a Rede-Rio como a Rede Nacional de Pesquisa aumentaram para 2 Mbps (megabits por segundo) as taxas de transmissão nos seus backbones e suas conexões internacionais. No caso específico da Rede-Rio, as demais conexões, inclusive as da UFF, permaneceram inalteradas, com uso de 64 Kbps. Como o gargalo de comunicação feita na Internet se deve ao seu enlace mais "estreito", um aumento geral das velocidades dos backbones sem ser acompanhado pela conexões às instituições fatalmente faz estas conexões virarem gargalos. O remédio seria procurar aumentar a banda da conexão entre UFF e a Rede-Rio.

Isto foi conseguido finalmente em maio de 1998. Nesta data, foi inaugurada uma nova conexão, com taxa de transmissão de 2 Mbps, entre a UFF e a Rede-Rio. Esta utiliza um enlace de rádio entre o Centro Tecnológico (CTC) no campus da Praia Vermelha e o CBPF, e sua aquisição foi financiada pela Faperj, que passou a ser considerar a UFF como "ponto de presença" da Rede-Rio em Niterói, com a possibilidade de estender acesso Internet a outras instituições nesta cidade.

A tecnologia usada no enlace, que é de 7 Km e atravessa a Baía da Guanabara, é CSMA/CA (IEEE 802.11), com transmissão usando DSSS (Direct Sequence Spread Spectrum - espectro espalhado com seqüência direta) na faixa de 2,4 GHz. Uma descrição mais detalhada do uso desta mesma tecnologia no interior do estado de São Paulo se encontra em [NUNE98].

Financeiramente, a opção de rádio é atraente, pois dispensa o aluguel de circuitos de telecomunicações. O benefício para a UFF deste novo enlace é grande, pois aumentou-se substancialmente a banda disponível para comunicação, com diminuição de congestionamento e tempo de resposta e viabilização de novas aplicações, tais como transmissão de voz e vídeo. Este Assunto será abordado mais a frente.

REDE INTERNA ATÉ 1997

A rede interna da universidade tem duas finalidades: permitir comunicação puramente interna, por exemplo, para fins administrativos, e dar acesso à Internet.

Tradicionalmente, a rede interna foi de terminais ligados a um mainframe (computador de grande porte), localizado no NPD. Com a adoção pela UFF do paradigma atual de computadores pessoais ligados em redes locais, o modelo antigo tendia a ser substituído. Porém, para que isto acontecesse, seriam necessários investimentos em infra-estrutura de interconexão das novas redes locais. A mesma também serviria para possibilitar acesso externo à Internet, e a tendência seria construir uma única infra-estrutura para atender aos dois tipos de aplicação.

Desde 1993, foi reconhecida a necessidade de criar esta infra-estrutura interna, que tem dois componentes importantes e de solução distintas:

O exemplo da evolução no campus da Praia Vermelha ilustra bem os dois componentes. Em 1995, vários laboratórios no Centro Tecnológico (CTC) e no Instituto de Física (IF) realizaram a interconexão em rede local dos seus equipamentos. Para permitir seu acesso à Internet, foram instalados dois enlaces novos de 64 Kbps, um entre o NPD e o IF, sendo este alugado da antiga Telerj, e o segundo entre o IF e o CTC, usando uma linha telefônica interna do campus. Esta foi a segunda conexão interna da Rede-UFF, pois já havia sido instalada outra de 9,6 Kbps do NPD ao Instituto de Lógica e Teoria de Computação (ILTC) no ano anterior. Até 1997, haviam sido instaladas outras conexões de 64 Kbps, para ligar ao NPD redes locais instaladas no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) e na Reitoria. Adicionalmente, havia um aumento na extensão das redes dentro do campus do Valonguinho e dentro do CTC. A situação da Rede-UFF no início de 1998 é ilustrada na Figura 2.

Figura 2: Estado da Rede Interna no Início de 1998

A NOVA REDE INTERNA

Considerações Gerais

Os mesmos argumentos que apontaram a necessidade de aumentar para 2 Mbps a taxa de transmissão na conexão externa à Internet também se aplicam aos enlaces internos da Rede- UFF. Enquanto permanecia em 64 Kbps a conexão externa, as conexões internas poderiam ficar com esta mesma banda. Porém, assim que aumentasse para 2 Mbps a conexão externa, como veio a acontecer em 1998, o uso de enlaces internos de velocidade menor seria um gargalo para a comunicação externa. Seria necessário aumentar a banda das conexões internas, de preferência para 2 Mbps. Em 1997, isto não era viável financeiramente, pois dependeria do aluguel de circuitos da antiga Telerj, que era muito caro neste ano (depois o preço desabou, com a introdução de nova tecnologia de modems xDSL). A alternativa de uso de rádio, como feito entre a UFF e o CBPF não era aplicável, pois a topografia de Niterói não permite visadas desimpedidas entre os diferentes campi da universidade.

Esta situação foi analisada em [STAN94] e foi indicado como solução o estabelecimento de uma infra-estrutura de comunicação própria da UFF, por meio de cabos de fibra óptica. Esta solução teria o benefício de não limitar de antemão a capacidade de transmissão, pois isto dependeria apenas dos equipamentos e não dos cabos. Uma outra vantagem seria a diminuição no custeio da rede interna, pois a UFF deixaria de alugar LPCDs à antiga Telerj, e se limitaria a alugar uso de infra-estrutura física (postes ou dutos subterrâneos) para colocação dos seus cabos ópticos.

É forçoso reconhecer que esta solução já havia sido adotada pela UFRGS [TARO94], onde um cabo óptico da própria universidade interliga o campus médico e o campus central desde 1992. No caso, os postes usados foram da companhia local de distribuição de energia elétrica.

Uma Rede Óptica para a UFF

O principal obstáculo à proposta de montar uma rede óptica interligando os campi da UFF foi o custo do investimento necessário para sua realização. Em diversos momentos foi levantado este custo, e chegaram a ser elaborados projetos parciais, tal como um que previa a interligação por rede óptica dos campi do Valonguinho, Gragoatá e Praia Vermelha, preparado em 1997, e que fazia parte do planejamento de contingência do NPD para esse ano. Na época haviam acenos da Reitoria que os recursos para sua realização seriam garantidos. Porém, antes de poder ser encaminhado este projeto, em maio de 1997 o Conselho Universitário (CUV) resolveu discutir o assunto da rede interna, e constituiu uma comissão para examinar o tema. Esta comissão acabou propondo como prioritária a criação de uma rede óptica bem mais ambiciosa do que do projeto do NPD, estendendo o alcance da rede a um número maior de locais ocupados pela universidade, e incluindo a capacidade de atender a outras necessidades, além do que apenas a comunicação de dados, como por exemplo, a telefonia de voz.

A proposta desta comissão incluiu uma abordagem geral (a criação de uma rede própria alcançando toda a UFF em Niterói), e um subprojeto específico (a implantação da parte inicial da nova rede). Esta limitação se deveu aos recursos financeiros disponíveis a curto prazo para investimento, inferiores a duzentos mil reais. A abordagem geral incluía a interconexão de todos os prédios por meios ópticos, e o uso de cabeamento metálico no interior dos mesmos. Porém, na falta de recursos suficientes para realizar toda esta infra-estrutura, resolveu-se priorizar a realização da interconexão óptica entre os diferentes locais (imóveis) ocupados pela universidade, deixando para uma segunda etapa a realização das redes complementares, por duas razões:

Detalhamento Técnico

Para instruir seu projeto, a comissão procurou obter informações sobre cabeamento óptico empregado em outros projetos de redes semelhantes, nacionais e do exterior. Foi feito contato com a equipe responsável para o planejamento e implantação de redes de acesso da Embratel no Rio de Janeiro. Deste contato, saíram algumas diretrizes importantes:

Sobre este último ponto, uma das grandes atrações da criação de uma rede óptica própria seria desvincular as questões de meio físico da tecnologia de enlace. Uma infra- estrutura óptica deveria ter uma vida útil bem superior a qualquer tecnologia em uso hoje e teria condições de admitir alternativas diferentes no futuro.

Figura 3: A Concatenação de Enlaces

Numa segunda etapa, procurou-se obter informações sobre projetos realizados em universidades. Além das informações limitadas publicadas em [ARMS88], outros subsídios foram obtidos através da antiga lista de discussão big-lan@listserv.syr.edu [BIG-LAN], para onde foi enviada uma consulta em julho de 1997 (reproduzida no Anexo 1). Respostas bastante úteis foram recebidas dos Srs. Ned Serate, da U. das Filipinas, Paul Worth da Valdosta State U., Georgia, EUA), Graham Wood, anteriormente da Kent State U., Ohio, EUA, e David Olson da Missouri Research and Education Network (MOREnet), Missouri, EUA. Da U. das Filipinas foi recebida também cópia da especificação técnica da sua rede recém licitada. Estas respostas confirmaram nosso intuito de criar uma rede superdimensionada, bem como empregar cabos híbridos, contendo uma mistura de fibras SM (monomodo) e MM (multimodo) no mesmo cabo.

Ampliação do Projeto

O projeto aprovado pelo CUV, por unanimidade, em agosto de 1997, previu a interligação dos principais centros da UFF no centro de Niterói (os campi do Valonguinho, Gragoatá e Praia Vermelha, a Reitoria, o HUAP, a Escola de Enfermagem e a Faculdade de Direito) em forma de anel. O cabo utilizado neste anel óptico deveria ser híbrido, de 12 fibras SM e 6 fibras MM, e seria suspenso dos postes da CERJ (Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro), concessionária local de distribuição de energia elétrica. O custo do projeto era estimado em R$ 180.000.

Em outubro de 1997, o então reitor resolveu acatar a posição do CUV, garantindo recursos no valor de R$ 220.000 do orçamento de 1997 para a sua realização. Para supervisionar os trabalhos, foi criada uma comissão para "gerenciar a implantação do sistema geral de Comunicação da UFF", com a mesma composição que a comissão do CUV. Sua primeira função seria de licitar a obra do anel óptico e adquirir um mínimo de equipamentos para montar uma rede interna interligando as redes locais existentes nos nós deste anel. O edital de licitação do anel foi preparado antes do final de outubro.

Poucos dias depois, a UFF foi informada de que receberia, ainda em 1997, recursos adicionais, no valor de R$ 990.000, do programa "Informatização das IFES" da SESu/MEC, e que estes recursos deveriam ser investidos em infra-estrutura de rede de computadores. Por determinação do então Reitor, foi confiada a esta mesma comissão a tarefa de propor o uso destes recursos, e foram gerados mais dois editais de licitação:

As três licitações foram realizadas com êxito nos últimos dias de dezembro de 1997, e uma mesma empresa (Procabo, do Rio de Janeiro) ganhou ambas as licitações para o cabeamento óptico. A maior parte dos equipamentos licitados foi fornecida pela IBM. O efeito da disponibilidade dos recursos foi de permitir, de uma só vez, os investimentos que seriam estendidos por vários anos, numa verdadeira queima de etapas

Figura 4: A Rede Óptica da UFF, Indicando o Cumprimento Aproximado de Cabo de Fibra Óptica Usado

Realização do Projeto

A implantação do cabeamento óptico, licitado em dezembro de 1997, foi concluída até janeiro de 1999. Houve vários atrasos, devido a falhas na documentação do projeto de cabeamento, realizado às pressas por causa dos prazos exíguos. Os problemas mais sérios envolveram a utilização do posteamento da CERJ, admitida prontamente quando inicialmente foi contatada esta empresa. Porém, foi necessário entregar para a CERJ o detalhamento do percurso do cabo, para que pudesse ser avaliada a necessidade de substituição de postes, em função da nova carga. De um total de mais de 450 postes, foi necessário substituir apenas quatro.

Outro problema relacionado foi a exigência da CERJ, apresentada em julho de 1998, que o projeto tivesse o aval da Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações), sem o qual não seria permitido executar as obras contratadas. A nova legislação da área de telecomunicações preconiza a autorização pela Anatel para a execução de "Serviço Limitado Privado", a categoria apropriada para o projeto da UFF. Porém, segundo técnicos da Anatel, a intenção seria apenas de regular a utilização de freqüências de rádio, e não de fibra óptica. De qualquer forma, foi outorgada a devida autorização e foi possível levar a obra a sua conclusão, após dois meses de interrupção.

CARACTERÍSTICAS DA NOVA REDE-UFF

As características principais da rede resultante são descritas a seguir.

Rede de Transmissão

Rede de Comunicação de Dados

Ao contrário do que havia sido previsto em [STAN94], a principal tecnologia de interconexão de redes adotada foi de comutadores Ethernet e Fast Ethernet, ao invés de roteadores. Esta tecnologia evoluiu muito depois de 1994. Porém, os equipamentos centrais de interligação foram 5 comutadores modelo 8274 da marca IBM e tecnologia Xylan, com capacidade de roteamento, que possuem interfaces ATM, Ethernet e Fast Ethernet. Estes equipamentos hoje compõem o backbone da nova Rede-UFF.

A maioria dos computadores ligados à rede possui uma placa de rede local do padrão Ethernet (de 10 Mbps). Mas, a rede pode atender a laboratórios com necessidades mais exigentes, através de Fast Ethernet (100 Mbps) e ATM (de 155 Mbps). Isto é essencial para atender a novas aplicações, tais como a transmissão de vídeo, ou para promover acesso aos servidores mais requisitados.

Finalmente, deve ser notado que os 5 comutadores 8274, além de serem roteadores IP unicast, também possuem capacidade de roteamento IP multicast, através do software mrouted. Isto significa, efetivamente, que quase a totalidade da nova rede da UFF suportará aplicações multiponto utilizando a tecnologia do MBone [HUIT95], ao qual a UFF está ligada.

INTERNET-2

O nome Internet-2 tem sido aplicado à realização de projetos de redes usando tecnologia TCP/IP com as altas taxas de transmissão associadas ao ATM (pelo menos 155 Mbps) disponíveis até o equipamento do usuário da aplicação. Na prática, isto tende a significar aplicações multimídia, e especialmente a transmissão de vídeo ou o uso de técnicas de realidade virtual. Para montar um projeto desta categoria, além dos equipamentos de ponta necessários para a realização da aplicação, é essencial o provimento de infra-estrutura de comunicação de dados em velocidades de, no mínimo, 155 Mbps, e, de preferência, de 622 Mbps, no nível de rede interna [INET2].

Deve-se notar que a nova rede de comunicação de dados já adere a este padrão de infra-estrutura, e portanto será imediatamente viável a condução de experiências da categoria Internet-2 pela UFF. Entre as unidades já identificadas com o interesse de se envolver nestas experiências estão o Instituto de Computação, o Instituto de Artes e Comunicação Social (Departamento de Cinema) e a Faculdade de Medicina.

Ao mesmo tempo, procuram-se parceiros externos para a realização destas experiências. Na cidade vizinha do Rio de Janeiro, existe, atualmente, uma rede experimental deste padrão, interligando 5 instituições e a Telemar, por meio de fibra óptica cedida pela Telemar. Esta rede conta com recursos da Faperj e da RNP, além dos meios físicos providos pela próprio Telemar. Está sendo investigada a adesão da UFF a esta rede, através de cabo de fibra óptica da Telemar, ou de enlace de rádio digital de alta velocidade diretamente entre a UFF e um dos seus parceiros em potencial.

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Telefonia

NOVO SISTEMA DE TELEFONIA

Em [STAN94] foi dada bastante ênfase à importância da criação da rede óptica de comunicação, em função dos serviços adicionais, além da comunicação de dados, que poderiam ser providos através da mesma, e foram citados explicitamente os serviços de televisão interna e de telefonia. Em particular, foram realizados, nos últimos anos, diversos estudos sobre a reforma do sistema de telefonia.

Na UFF, a telefonia é atualmente responsabilidade da Prefeitura do Campus, como é tradicional em muitas instituições. Na maioria dos casos, seu provimento se assemelha ao de energia elétrica, e o serviço de manutenção da Prefeitura do Campus mantém uma equipe muito reduzida, cuja função principal é tratar da instalação e manutenção da rede de cabeamento telefônico. Em 1998, a UFF possuía alguns PABX (mesas telefônicas), sendo as principais na Reitoria, no HUAP e na Escola de Engenharia. As duas primeiras eram muito antigas (uma delas chegou a quebrar e não poder ser consertada nesse ano), e não permitiam controles sofisticados. Adicionalmente, havia dezenas de microcentrais, que possibilitavam compartilhar uma ou mais linhas tronco entre um número pequeno de ramais.

Nos últimos anos, houve uma enorme evolução na tecnologia de centrais telefônicas, com a adoção de tecnologia digital, ou seja, controle por um computador pequeno, que permite, além de completar ligações, uma série de outras tarefas e controles, inclusive a filtragem e a contabilização de chamadas a partir de cada ramal. A configuração e manutenção destas centrais têm muito em comum com as mesmas funções num sistema de computação, e geralmente requerem um grau relativamente sofisticado de administração.

Desde 1995, vem sendo estudada, pela Prefeitura do Campus, a possibilidade de propor um novo sistema de telefonia em substituição à antiga central da Reitoria, atualmente responsável por acesso a aproximadamente 25% dos terminais instalados. Chegou a ser preparado, porém não publicado, um edital de licitação para a substituição dessa central em final de 1997. Com a adoção do projeto da rede óptica, começou a ser discutido um projeto de telefonia bem mais ambicioso.

Este projeto pretende atender amplamente às necessidades de telefonia de toda a UFF (em Niterói), através de um sistema integrado, que trate todos os telefones como ramais internos. Isto seria feito substituindo as atuais centrais, microcentrais e linhas diretas por um sistema de centrais automáticas, interligadas entre si através da rede óptica de telecomunicação, e sendo servido externamente através de troncos digitais da operadora local de telecomunicações. Com isto, boa parte das ligações feitas hoje entre diferentes unidades da UFF, através de linhas alugadas da Telemar, seria feita através da infra-estrutura própria da universidade. Adicionalmente, seria reduzida a demanda por telefonistas, por uso de DDR (discagem direta ao ramal), e seria possível um controle mais eficaz dos gastos com a telefonia, através do controle e contabilização individuais de cada aparelho (ou usuário).

Já foi feito levantamento da situação no segundo semestre de 1998 dos serviços de telefonia e da demanda. Foram contabilizados 737 ramais dos principais PABX, e 218 linhas diretas, algumas das quais compartilhadas através de microcentrais. A demanda imediata foi de 2.060 ramais, com previsão de crescimento para 2.700.

A forma exata de atender esta demanda será decidida através de licitação a ser realizada no primeiro semestre de 1999. Mas, as principais características do sistema a ser adquirido já estão definidas:

O problema principal ainda a ser resolvido é a forma de transmissão a ser usada para os ramais em prédios nos campi. Deveria haver pelo menos uma central por campus, e possivelmente uma central em cada prédio. Para os prédios isolados (fora dos campi), não haverá alternativas ao uso de meio óptico (na rede externa) até o prédio. A questão aqui será se deve ser colocada capacidade de comutação (uma central) no prédio. A alternativa seria de multiplexação, pela via óptica, dos canais de voz correspondentes aos ramais, a partir de uma central em campus próximo. Para os prédios dentro dos campi, além destas duas alternativas, existe ainda a terceira alternativa do uso de meio metálico (par individual) para cada ramal. Está sendo realizada uma avaliação de custo/benefício destas 3 alternativas para os diferentes prédios para formular a versão final do edital de licitação.

ADMINISTRAÇÃO FUTURA DA TELEFONIA

As características da administração de um sistema de telefonia moderno, incluindo controle de acesso e utilização, administração de senhas e contas, têm muito mais a ver com a administração de recursos computacionais do que com as atribuições tradicionais do setor de telefonia da universidade, preocupado principalmente com acesso ao meio físico, e, eventualmente, de diagnóstico de falhas em centrais de tecnologia antiga. Esta é uma das duas principais motivações para introduzir mudanças no organograma da universidade para querer enquadrar a administração do novo sistema de telefonia junto à administração de recursos computacionais.

A outra é o fato de que, com o uso da rede óptica para dados e telefonia, será simplificada substancialmente sua administração, com eliminação de disputas sobre limites de jurisdição, se forem combinadas sob uma única unidade administrativa a rede de transmissão e os serviços de comunicação de dados e de telefonia. A solução mais simples, no caso da UFF, seria a transferência da responsabilidade para a telefonia para o Núcleo de Processamento de Dados (NPD). Uma alternativa seria a criação de uma nova unidade, talvez um Núcleo de Comunicações, separado do NPD, que administraria toda a área de comunicação, incluindo as redes de transmissão (óptica e metálica), os serviços de comunicação de dados e de telefonia, e, eventualmente, outros serviços novos (ver a próxima seção).

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Outras aplicações (TV e rádio)

A disponibilidade abundante de capacidade de transmissão da rede óptica permite atender a outras aplicações de comunicação interna. Entre as alternativas mais óbvias seria um serviço de TV a cabo, com a montagem de uma rede de distribuição do tipo (HFC - Hybrid Fiber Coax), utilizando fibras avulsas na rede óptica e redes de distribuição em cabo coaxial, a serem instaladas. As aplicações desta tecnologia poderão incluir a difusão de eventos ou palestras em circuitos particulares, bem como a retransmissão de outras fontes de programação. Há espaço aqui para uma eventual colaboração com operadoras de TV a cabo no mesmo município para a geração e distribuição do canal obrigatório de TV Universitário, previsto na legislação.

Seria também possível explorar a rede óptica para estender o alcance de radiotransmissoras de pequena potência, através da utilização de vários transmissores, localizados em diferentes pontos da rede óptica, e alimentados através desta.

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Lições

Há várias lições que podemos tirar da evolução da implantação de redes na UFF durante os últimos anos. Algumas são conseqüência da evolução tecnológica nas áreas de computação e comunicação, que produz convergência entre assuntos antes díspares. Outras estão relacionadas à falta de agilidade das estruturas administrativas face à rapidez desta mesma evolução tecnológica. Acredita-se que sejam necessárias modificações na administração da universidade para alcançar os seguintes objetivos:

Não deve ser surpreendente que outras instituições também tenham enfrentado problemas semelhantes aos da UFF. Em 1997, a Coordenação Central da Informática (CCI) da Universidade de São Paulo, que já vinha tratando da política de informática dessa universidade desde 1994, propôs a reformulação da sua atuação para integrar a Informação e a Comunicação (inclusive a telefonia) [USP97]. Foi proposta a transformação da CCI para a Coordenação Central de Informação e Comunicação (CCIC), e a criação de uma Coordenadoria de Informação e Comunicação (CIC) que serviria de Secretaria Executiva desta. Além disto, a CIC orientaria e supervisionaria os demais órgãos centrais do Sistema de Informação da USP e as atividades das unidades nas áreas de Informação e Comunicação.

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Agradecimentos

Além das pessoas citadas explicitamente neste artigo, o autor reconhece o apoio e colaboração de inúmeras pessoas dentro e fora da UFF na confecção e realização do projeto aqui descrito. Embora seja imperdoável deixar de reconhecer todos, são citados aqueles que tiveram uma contribuição essencial ao processo: os professores Julius Leite, Maximus Santiago, Paulo Gomes e Sérgio Queiroz, colegas nas duas comissões centrais; os professores Carlos Malcher, Liliana Kawase e Marcos Tadeu, da Engenharia de Telecomunicações, com importantes contribuições técnicas; os funcionários Hélcio Rocha e Leonardo Rizzo, do NPD; Humberto Teixeira, César Pinheiro e Sérgio Santos Gonçalves, da Prefeitura do Campus, e o consultor Sérgio Kitsuta, que carregaram muitas pedras por uma longa distância. Não seria possível realizar um projeto desta envergadura sem a apoio do então reitor da UFF, Luiz Pedro Antunes, e seus auxiliares Walter Pinho, Fernando César Gonçalves e James Hall.

É digno de nota que o atual reitor da UFF, Cicero Mauro Fialho Rodrigues, que assumiu o cargo em novembro de 1998, continua dando pleno apoio para a realização completa do projeto em desenvolvimento. Nesta fase do projeto, participam mais diretamente nos trabalhos seus auxiliares Clínio Freitas Brasil, Pedro Lentino, José Carlos Baptista Xavier e Maria de Lourdes Peluso.

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Referências bibliográficas

[ARMS88] Arms, C. (ed.), Campus Networking Strategies, Digital Press, 1988.

[BIG-LAN] Campus-Size LAN Discussion Group . Vide também http://web.syr.edu/~jmwobus/comfaqs/big-lan.faq

[HUIT95] Huitema, C., Routing in the Internet, Prentice-Hall, 1995.

[INET2] Para uma descrição, ver http://www.rnp.br/i2/index.html

[NUNE98] Nunes, D. e Brito, E.H., "Redes Sem Fio: Uma Forma Eficiente de Conexão à Internet", RNP News Generation, 6 (2), julho de 1998. Disponível em http://www.rnp.br/newsgen/9806/wireless-wan.html

[STAN92] Stanton, M.A., " A Rede Interna da PUC-Rio". In: Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores, 10, Recife, 04/1992. Anais, Recife, UFPE, 1992, p. 93-106.

[STAN94] Stanton, M.A., "A Modernização das Redes de Comunicação da UFF". Relatório interno do Depto. de Enga. de Telecomunicações da UFF. Disponível em http://server.uff.br/rede-uff/redeuff1.htm

[TARO94] Tarouco, L.M.R., comunicação reservada.

[USP97] "Informação e Comunicação na USP", relatório da Comissão Central de Informática (CCI) da USP, agosto de 1997. Disponível em http://www.ime.usp.br/~cci/caderno/

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Anexo 1: mensagem à lista Big-LAN

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