O PoP-PE e o Crescimento da RPI

Anderson S. L. Gomes <anderson@pop-pe.rnp.br>

Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP)

Introdução
1995, O Ano Da Virada
1995 - 1997: Período De Consolidação De Ações
O Programa De Interiorização: A Rpi
Perspectivas De Curto Prazo
O Interporto Do Recife
Conclusões
Agradecimentos

Este artigo apresenta a evolução do PoP-PE (Ponto de Presença da RNP em Pernambuco) e as perspectivas com relação as suas principais linhas de ação, que culminam com o processo de interiorização da rede, formando a RPI - Rede Pernambuco de Informática.

Introdução

No final da dcada de 80, já estava claro para os pesquisadores do Departamento de Informática da UFPE que o uso de uma rede mundial de computadores seria uma questão de tempo. Como usuários de correio eletrônico, professores de vários departamentos da UFPE já estavam "globalizados" nas suas atividades de pesquisa, e a necessidade de uma infra-estrutura adequada em telemática já era previsível.

Quando o MCT, através do CNPq, introduziu o programa prioritário da RNP, que implantou a primeira e principal espinha dorsal de acesso Internet do País, Pernambuco estava politicamente articulado e tecnologicamente preparado para participar do projeto. Com uma visão de futuro, professores do DI-UFPE , a Secretaria de Ciência e Tecnologia e a FACEPE uniram esforços e implantaram o PoP-PE no Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco - ITEP .

A visão de futuro previa a dimensão que o uso da Internet teria: sair do âmbito acadêmico para ser utilizada por toda a sociedade, com impactos econômicos e sociais que se ampliam a cada dia.

O ITEP mantém e opera, desde 1990, o PoP-PE, onde estão atualmente conectadas 41 instituições acadêmicas e comerciais do Estado, via linha dedicada, além dos pontos de presença dos Estados de Sergipe, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, com previsão para atender também a Tefé e Fernando de Noronha.

Neste artigo, descrevemos a evolução e as perspectivas atuais do PoP-PE com respeito sua atuação no suporte à infra-estrutura de acesso Internet em Pernambuco.

1995, O Ano Da Virada

Até 1995, o acesso Internet no País era privilégio do setor acadêmico ou de alguns setores específicos e sem fins comerciais. A partir daquele ano, com a abertura do acesso Internet para toda a sociedade através do provimento de acesso comercial, houve uma significante mudança no uso e aplicações da infra-estrutura disponibilizada por esta rede de computadores.

Em Pernambuco, tanto o ITEP (ligado à espinha dorsal da RNP) como a EMBRATEL (que começou a montar sua própria espinha dorsal) passaram a prover acesso comercial, como "provedor de provedores", gerando emprego e renda em um setor de alta tecnologia e pouco intensivo em capital. Foi também no final de 1995, que o PoP-PE foi conectado a 2 Mbps à espinha dorsal da RNP.

Foi de fundamental importância, naquele ano, o PoP-PE já manter uma infra-estrutura "quase" adequada para atender comercialmente os provedores de acesso. Este passo só foi possível graças à qualificação técnica dos recursos humanos que estavam cuidando da parte operacional do PoP-PE, na sua maioria bolsistas remunerados pelo CNPq ou FACEPE; da infra-estrutura física também "quase" adequada e do fato de ser o ITEP um órgão prestador de serviços tecnológicos.

Um outro aspecto importante, em 1995, foi a criação da Rede Pernambuco de Informática - RPI , como um programa coordenado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente - SECTMA, cujo objetivo principal era a disseminação do acesso Internet em Pernambuco, tendo como órgão executor o ITEP.

Desta forma, o ITEP passou a operar o acesso não só na região metropolitana do Recife (RMR), mas começou a implantar, com recursos estaduais, a infovia no interior do Estado.

1995 - 1997: Período De Consolidação De Ações

Com apoio total dos vários segmentos que formam o "ecossistema" de informática em Pernambuco (setor acadêmico, Sistema Estadual de C&T, setor de telecomunicações e setor empresarial), o período 95-97, particularmente os dois últimos anos, foi de consolidação da infra-estrutura de acesso Internet em Pernambuco, com reflexo direto nos Estados vizinhos que estão conectados ao PoP-PE.

Esta consolidação ocorreu no âmbito interno do PoP-PE , como Centro de Operações para conectividade das instituições e refletiu-se nas ações externas através do atendimento aos provedores comerciais e da implantação de PoPs-RPI, os pontos de presença nos municípios do interior.

O Programa De Interiorização: A Rpi

Um dos destaques no processo "infra-estrutura para acesso à Internet no Estado" ocorreu com a implantação de pontos de presença da RPI (PoP-RPI) em vários municípios do Estado. Efetivamente, o ITEP está implantando a infovia estadual de informações a partir dos serviços de telecomunicações disponibilizados pela TELPE. Trata-se de uma obra de infra-estrutura e de alto valor agregado, cujo investimento é relativamente pequeno, tanto de material permanente, como de manutenção mensal, se comparado a outras obras de mesma característica como hidrovias, ferrovias ou rodovias. O acesso à Internet nos municípios permite a conexão a preços locais (em vez de interurbano) o que provocou a criação de empregos e empresas de alta tecnologia através da indução do surgimento de provedores de acesso comerciais. Estes provedores, inicialmente na região metropolitana do Recife, hoje espalham-se pelo interior do estado como resultado da implantação de PoPs-RPI nos principais municípios do interior. O processo de interiorização foi realizado até 1996, exclusivamente, com apoio do Governo Estadual, através da FACEPE e ITEP. Neste período, foram colocados em operação oito PoPs-RPI em municípios estratégicos do Estado, como parte de uma primeira fase de implantação da RPI que prevê PoPs em 21 municípios do Estado. Até janeiro de 1998, estavam operacionais os PoPs-RPI em Petrolina, Caruaru, Garanhuns, Araripina, Arcoverde, Nazaré da Mata, Belo Jardim e Carpina. Cada um destes municípios conta com um PoP diretamente conectado ao PoP-PE, no ITEP, a velocidades diferentes. É importante destacar que Arcoverde, Caruaru e Garanhuns estão conectados a 2Mbps, a maior velocidade disponível atualmente no País. A implantação de PoPs-RPI tem também apresentado o papel de indutor de uso da Internet por setores de formação acadêmica nas Faculdades de Formação de Professores do Estado. Como algumas destas faculdades sediam os PoPs estaduais (caso de Garanhuns, Nazaré da Mata e Petrolina) as "redes de computadores" das mesmas já estão conectadas à Internet, permitindo assim o acesso por parte dos estudantes. Em Garanhuns, por exemplo, cerca de mil estudantes acessam a Internet a partir da faculdade. Conforme já foi dito, o programa da RPI prevê a instalação de PoPs em 21 municípios, o que será viabilizado com a chegada dos equipamentos obtidos com recursos do programa Infovias Para o Nordeste, lançado pelo MCT. Estes equipamentos já foram recebidos e estão sendo distribuídos nos PoPs-RPI, de forma a complementar a infovia de Pernambuco, cujas cidades estão no mapa da Figura 1. A distância entre Recife e Petrolina é de, aproximadamente, 800Km, enquanto que Recife-Caruaru é de 130Km. O PoP-Caruaru está conectado ao PoP-PE via fibra óptica.
Figura 1 - Espinha Dorsal da RPI
	No interior, além de atender a provedores de acesso e de informações, em muitos casos, o próprio PoP atende à comunidade (escolas, empresas, usuários) no caso de ainda não haver provedor de acesso local. A Figura 2, abaixo, ilustra a função do PoP-RPI de cada município.
Figura 2 - Função do PoP-RPI

Perspectivas De Curto Prazo

No estágio em que se encontra a infra-estrutura de telemática para acesso Internet em Pernambuco, e, considerando o cenário nacional com as mudanças que ocorrerão em 1998, algumas medidas já estão sendo concretizadas, em articulação a nível nacional ou local, onde pode-se citar:

Com o retorno do apoio do Governo Federal a uma RNP voltada, exclusivamente, para o meio acadêmico (sua função primária), caberá aos PoPs decidirem se continuarão atuando comercialmente (a atuação acadêmica continua garantida, não havendo motivo de preocupação neste sentido). Em articulação com outros PoPs estaduais, está sendo criada a Associação de PoPs, e o PoP-PE (como outros) já decidiu manter sua linha de atuação atual. Para isto, está solicitando autorização para operar como sistema autônomo (AS), com um link com a EMBRATEL, bem como está tentando viabilizar, a nível regional, uma conexão internacional com saída em Recife. Estes dois passos colocarão o PoP-PE numa situação confortável para atendimento aos seus clientes e usuários, incluindo o setor acadêmico. O link com outras espinhas dorsais é fundamental para que, quando a RNP deixar de autorizar o tráfego comercial pela sua espinha dorsal, a alternativa de backbone já esteja operacional.
A consolidação do acesso no interior do Estado é de fundamental importância. Este é um nicho de atuação para os PoPs que "saíram na frente" do ponto de vista comercial e de atuação no interior. Além do impacto social, a geração de empresas de base tecnológica e o uso de tecnologias de informações em regiões carentes pode ser um grande diferencial.
A partir de 98, de uma forma geral e abrangente, a perspectiva é que as aplicações e uso da Internet será cada vez maior, particularmente nos setores de ensino à distância, telemedicina, comércio eletrônico e setor judiciário. O ITEP, através do PoP-PE, tem colaborado de forma efetiva com as instituições responsáveis por estes setores. O programa de informática para educação, coordenado pela Secretaria de Educação e Esportes , foi montado com base na Rede Pernambuco de Informática (do ponto de vista de distribuição geográfica para acesso à Internet). Um programa de telemedicina, com a participação da UFPE e da Secretaria de Saúde do Estado está sendo elaborado explorando a RPI, inclusive com projetos pilotos para cidades do interior conectadas a 2Mbps. O comércio eletrônico passará a ser uma realidade no dia a dia. Há um projeto atualmente em implantação na região metropolitana do Recife, o Interporto do Recife, cujo objetivo principal é fomentar o comércio eletrônico, além de atuar em áreas estratégicas peculiares a Pernambuco. Finalmente, como último exemplo, temos o setor judiciário, entrando fortemente como usuário da Internet, de forma a permitir que a sociedade acesse e acompanhe processos, em várias instância, via esta rede. Do ponto de vista de municípios do interior, esta área (bem como a telemedicina) tem muito a oferecer à população.

O Interporto Do Recife

De forma a dar um passo à frente e explorar a infra-estrutura disponível a uma velocidade de 2Mbps, a Secretaria de C&T, juntamente com o ITEP, idealizaram o projeto do Interporto do Recife, que é um conjunto de teleportos distribuídos geograficamente. Um teleporto é um porto de telecomunicações dotado dos mais avançados meios de comunicações, permitindo um fluxo de informações quase instantâneo 24h por dia. O Interporto do Recife introduz no País o modelo de Teleportos Temáticos distribuídos geograficamente, mantendo as características próprias de cada empreendimento. Os teleportos temáticos estarão interligados entre si através de uma rede de alta velocidade, e utilizando intensivamente a Internet. Existem várias vantagens na exploração dos teleportos, que vão do acesso diferenciado à sinergia existente entre os participantes desta iniciativa. Da forma que foi projetado, permitirá uma modularidade na implantação, que acarretará em um acesso mais rápido na ativação de cada teleporto e sua inserção no Interporto do Recife. Os empreendimentos serão instalados em "edifícios inteligentes", com a possibilidade de uma eventual adaptação de prédios já existentes, ou, pelo menos, de melhor aproveitamento de áreas disponíveis. No caso de Recife, vários teleportos temáticos já foram identificados: Teleporto do Conhecimento, Teleportos Centros Empresariais, Teleportos Shopping Centers, Teleporto do Recife (Ilha do Recife), Teleportos Industriais (SUAPE, Porto do Recife) e Teleporto PARQTEL. A Figura 3 ilustra o modelo do Interporto.
Figura 3 - Modelo do Interporto
	Um exemplo concreto de um teleporto temático em funcionamento é o chamado Teleporto do Conhecimento, que envolve o setor acadêmico. A Figura 4 mostra o estágio atual deste teleporto. Duas outras grandes universidades do Estado, a Universidade Rural e Universidade Católica estarão conectando-se ao PoP a 2Mbps ainda neste semestre, permitindo uma total interação entre as Universidades.
Figura 4 - Teleporto do Conhecimento
	Estão em negociações avançadas a instalação de um teleporto em um dos shopping centers da cidade e a instalação de um teleporto para provedores. Outros teleportos deverão ser implantados ao longo de 1998.

Conclusões

Neste artigo, foi descrita a evolução do PoP-PE desde 1990, o estágio atual de conectividade Internet via este PoP, as perspectivas de curto prazo e as principais ações e resultados decorrentes do PoP-PE e sua equipe técnica, que culminam com a Rede Pernambuco de Informática - RPI.

Existem, evidentemente, vários pontos que não foram abordados e, mais importante, cada PoP tem sua própria experiência. Aprendemos muito com outros e estamos repassando parte do nosso conhecimento para aqueles recém-estruturados.

Não se pode esquecer que, com a Internet 2 e as redes de alta velocidade, uma nova fase de conhecimento tecnológico em infra-estrutura, particularmente no controle e roteamento usando tecnologia ATM, surgirá. Começando com as redes metropolitanas de alta velocidade, deveremos em dois ou três anos estar transferindo, mais uma vez, esta tecnologia para a sociedade como um todo.

E aí, poderemos ou deveremos já estar pensando em várias dezenas de Gbps, um mundo que já existe mas só nos laboratórios de pesquisa. A formação de recursos humanos deve, portanto, continuar - o que é essencial para a manutenção de todo esse aparato - e as aplicações devem fluir naturalmente, para que a sociedade como um todo usufrua deste conhecimento.

Agradecimentos

Este é um trabalho de equipe. Sem a participação de um time coeso, fica bem mais difícil, quando não impossível, tocar um projeto de tão grande impacto e importância. São de fundamental importância, portanto, os técnicos que "vestem a camisa" do PoP, e, em particular, eu agradeço aos do PoP-PE (atuais e anteriores). O apoio financeiro de CNPq, RNP, FACEPE, e MCT também é imprescindível, e aproveitamos o ensejo para agradecer publicamente. Finalmente, agradecemos aos usuários, cujas críticas construtivas são fundamentais para a melhoria da qualidade do sistema como um todo.