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ISSN 1518-5974
Boletim bimestral sobre tecnologia de redes
produzido e publicado pela  RNP – Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
31 de julho de 2002 | volume 6, número 4

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Nesta edição:

NewsGeneration:



Conceitos e experiências com os protocolos de roteamento IPv6-enabled OSPFv3 e BGP4+ usando Zebra em sistemas Linux e FreeBSD

Luciano Martins <>

Diretoria de Redes e Telecomunicações - Gerência de Inovação em Redes
Fundação CPqD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações

Resumo
1. Introdução
2. OSPF com suporte a IPv6
2.1 Experimento com OSPF com suporte a IPv6
3. BGP com suporte a IPv6
3.1 Experimentos com BGP com suporte a IPv6
4. Considerações Finais
Referências bibliográficas

Resumo

Este artigo pretende abordar alguns conceitos sobre os protocolos de roteamento IPv6 OSPFv3 e BGP4+, bem como mostrar alguns resultados de experimentos realizados em um ambiente com sistemas Linux (Red Hat 7.3, Conectiva 7.0 e Conectiva 8.0) e FreeBSD 4.4, usando o software de roteamento gratuito Zebra, em sua última versão (zebra-0.92a). O artigo incluirá alguns trechos de configuração dos protocolos de roteamento das máquinas roteadoras e configuração do IPv6 nos sistemas Linux e FreeBSD, bem como as tabelas de roteamento resultantes.

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1. Introdução

O protocolo IPv6 é um assunto vislumbrado por diversas instituições de pesquisa e, até mesmo, comerciais. A Fundação Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), possui um sub-projeto "IPv6 - IP de nova geração" dentro de uma pesquisa aplicada "NGN - Next Generation Network", que realiza, além da pesquisa em IPv6, estudos e aplicações práticas em diversas áreas, como qualidade de serviço, planejamento de redes, gerência e redes sem fio [1][2].

Segundo o Internet Software Consortium (ISC), existem atualmente mais de 147 milhões de hosts na Internet com um nome associado, tendo um crescimento médio de 20 milhões de hosts por ano [3]:

Crescimento estatístico da Internet anualmente

Figura 1 - Crescimento estatístico da Internet anualmente

Atualmente, existe certo consenso sobre o protocolo IP como a base para a convergência das redes de dados com as outras redes, incluindo-se voz e vídeo. O fator principal do sucesso do IP foi o fato do protocolo ser muito simples e, com isso, ser flexível o suficiente para se adaptar a diversos tipos de redes locais e de longa distância e, também, às aplicações de usuários.

Convergência e previsão para o IPv6

Figura 2 - Convergência e previsão para o IPv6

O fator que mais encoraja a pesquisa e desenvolvimento sobre o protocolo IPv6 é o tamanho de seu endereçamento de 128 bits, contra 32 bits do atual IPv4. Os outros recursos do IPv6, tais como segurança em camada de rede fim-a-fim, qualidade de serviço melhorada, auto-configuração e outros, serão incrementos do protocolo para a melhoria dos serviços de rede.

Tendo o endereçamento do protocolo aumentado para 16 bytes, adaptações e até mesmo modificações estão sendo feitas, e outras serão necessárias, em protocolos de controle, de roteamento, em estruturas de registros de endereços [4] e outros.

O IPv6 é suportado por Interior Gateways Protocols (IGPs) e Exterior Gateway Protocols (EGPs). Exemplos de IPv6 IGPs são o RIPng (Routing Information Protocol - next generation) e o OSPFv3 (Open Shortest Path First - version 3). Um exemplo de EGP é o BGP4+ (Multiprotocol Border Gateway Protocol) [5].

O protocolo RIP, com IPv6, funciona como o RIP com IPv4 e oferece os mesmos benefícios. Os incrementos, para que o RIP trabalhe com IPv6, incluem suporte a endereços e prefixos IPv6 e o uso do endereço multicast "All RIP Routers" (ff02::9) como endereço de destino para mensagens RIP update. Os comandos para configuração em roteadores também foram modificados, como, por exemplo, no CISCO IOS CLI (Command-Line Interface) [5], e na interface do GNU ZEBRA [10].

Multiprotocol BGP para IPv6, ou BGP4+, funciona como o BGP para IPv4. Os incrementos para IPv6 incluem suporte à família IPv6 e atributos NLRI (Network Layer Reachability Information) e NEXT HOP. Ambos usam endereços IPv6 com diferentes escopos (global e link-local, por exemplo).

Este artigo pretende mostrar algumas modificações ocorridas nos protocolos OSPF e BGP para suportar IPv6, e algumas configurações e resultados de roteamento OSPF e BGP para IPv6, implementados em um ambiente IPv6 com o software GNU ZEBRA instalado em máquinas Linux e FreeBSD.

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2. OSPF com suporte a IPv6

Nesta seção serão explanadas as principais modificações ocorridas no protocolo OSPF para suporte ao IPv6. Os detalhes podem ser encontrados na RFC 2740 [6].

O Open Shortest Path First (OSPF) é um protocolo do tipo link-state, usado no interior de um sistema autônomo (AS). Em um protocolo link-state, os roteadores trocam informações sobre os estados dos canais de comunicação (links) em que estão ligados.

Para melhor distribuir as tabelas de roteamento, o protocolo OSPF implementa o conceito de "Área". Uma rede pode ser dividida em diversas áreas. Cada área contém seus próprios roteadores e sua própria rede. Quando várias áreas são configuradas em uma mesmo AS, uma delas é chamada de backbone e o seu identificador é zero (área 0). O backbone é a área central e as outras áreas devem ser conectadas a ela através de roteadores, chamados de roteadores de borda de área (ABR). As informações de roteamento são enviadas para os roteadores no backbone, que propagam as informações para os roteadores nas bordas das áreas e assim por diante. Na figura a seguir, tem-se um exemplo de uma topologia OSPF dividida em áreas [7]:

Exemplo de áreas em uma topologia OSPF

Figura 3 - Exemplo de áreas em uma topologia OSPF

Todas as áreas devem ter uma ligação com a área 0. Se isto não for possível, um canal de comunicação virtual (link virtual) é configurado. Este canal fornece um caminho lógico entre uma área e o backbone, e é estabelecido entre dois roteadores localizados nas fronteiras das áreas.

O OSPF utiliza uma entrega de atualizações (updates) ponto a ponto. Porém, quando há um domínio com suporte a broadcast, utiliza-o para agilizar a entrega das informações, elegendo-se um roteador mestre (DR - Designated Router) para que ele faça a distribuição de todas as atualizações.

O OSPF também permite o anúncio, para um AS, de rotas descobertas de outros AS´s externos, através da redistribuição de rotas de outros protocolos para o OSPF (por exemplo, BGP para OSPF).

Cada roteador OSPF armazena uma base de dados que descreve a topologia da rede e, a partir desta base, é construída a tabela de roteamento. É requerida uma certa quantidade de memória dos roteadores para o armazenamento da tabela de roteamento e da base de dados com as informações sobre os canais [8].

O roteador que participa do algoritmo SPF tem duas tarefas [9]:

Os roteadores OSPF se comunicam através de protocolos implementados acima do IP chamados de Hello, Exchange e Flooding. O Hello é responsável por verificar se os canais de comunicação estão operacionais. O Exchange é responsável pela sincronização inicial das bases de dados. O Flooding é responsável por manter as bases de dados sincronizadas. As mensagens geradas por um roteador podem informar [8]:

Em relação ao protocolo IPv6, os mecanismos fundamentais do OSPF, tais como flooding, DR election, area support, SPF calculation, e outros, não foram modificados. Porém, algumas mudanças foram necessárias para suportar a diferença semântica entre IPv4 e IPv6 e para suportar endereços de 128 bits. Algumas das principais diferenças técnicas são:

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2.1 Experimento com OSPF com suporte a IPv6

A fim de realizar testes básicos com o protocolo OSPF para IPv6, configurou-se um ambiente com máquinas Linux Red Hat 7.3, Linux Conectiva 7 e 8 e FreeBSD 4.4. Todos estes sistemas operacionais possuem suporte ao protocolo IPv6.

Em cada um destes sistemas foi instalado o software "zebra-0.92a" [10], que é um software livre gerenciador de protocolos de roteamento baseados na pilha TCP/IP. Este software suporta protocolos como BGP-4, RIPv1, RIPv2, RIPng, OSPFv2 e OSPFv3.

Para a instalação do zebra no sistema, fez-se o download do software, e em seguida, foi instalado de acordo com o seguinte procedimento:

modprobe ipv6
tar xvfz /usr/src/zebra0.92a.tar.gz
cd /usr/src/zebra0.92a
./configure
make
make install
make clean

Esses comandos criam em /usr/sbin os programas "zebra", "ospfd", "ospf6d", "ripd", "ripngd" e "bgpd". Para que os protocolos de roteamento com suporte a IPv6 sejam instalados, é necessário inserir o módulo "ipv6" antes da compilação do software.

A figura 4 ilustra a topologia de teste realizada. Foram usados endereços IPv6 com escopo "site-local" (fec0) simplificados. Em um ambiente real para conexão a redes IPv6, como, por exemplo, ao 6Bone ou ao projeto piloto de IPv6 do Brasil [2], endereços de escopo global deveriam ser configurados.

Topologia de teste para o protocolo OSPF para IPv6

Figura 4 - Topologia de teste para o protocolo OSPF para IPv6

Para exemplificar a configuração e os resultados nesta topologia, serão mostradas as configurações do roteador R2 (Linux).

Inicialmente, a configuração das interfaces e a inicialização dos daemons "zebra" e "ospf6d" é necessária, para que o protocolo OSPF para IPv6 possa ser executado satisfatoriamente.

ifconfig eth2 inet6 add fec0:a200::2/24
ifconfig eth1 inet6 add fec0:0200::1/24
ifconfig eth0 inet6 add fec0:0100::1/24
/usr/local/sbin/zebra -d
/usr/local/sbin/ospf6d -d

Na inicialização do daemon ospf6d, o arquivo de configuração do OSPF para IPv6, o"ospf6d.conf", localizado no diretório /usr/local/etc do sistema, é procurado.

No caso do roteador R2, este arquivo tem o seguinte formato:

hostname R2
password ********
log stdout

router ospf6
router-id 2.2.2.2
interface eth0 area 0.0.0.0
interface eth1 area 0.0.0.0
interface eth2 area 0.0.0.0

Como foi comentado anteriormente na parte teórica sobre OSPF, o ROUTER ID permanece sendo de 32 bits, e o processo OSPF é executado "por interface" (interface) e não mais "por sub-rede" (network). Todos os roteadores estão na área "0" (0.0.0.0). Nesta versão do zebra, ainda não há implementação de suporte a áreas no IPv6.

Após configurados devidamente todos os roteadores, a tabela de roteamento OSPF de R2 fica da seguinte forma:

Destination Options Area Cost Type2 IS Origin Nexthop I/F
*IA fec0:100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 1 0 3.3.3.3[2] :: eth0
*IA fec0:200::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 1 0 2.2.2.2[3] :: eth1
*IA fec0:300::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 2 0 5.5.5.5[3] fe80::260:8ff:fe2b:4d22 eth0
*IA fec0:400::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 2 0 5.5.5.5[2] fe80::200:f8ff:fe04:370 eth0
*IA fec0:a100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 2 0 1.1.1.1[0] fe80::220:afff:fe9b:feed eth2
*IA fec0:a200::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 1 0 1.1.1.1[2] :: eth2
*IA fec0:b100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 4 0 6.6.6.6[0] fe80::200:f8ff:fe04:3704 eth1
*IA fec0:b100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 4 0 6.6.6.6[0] fe80::260:8ff:fe2b:4d22 eth0
*IA fec0:b200::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 3 0 5.5.5.5[1] fe80::200:f8ff:fe04:3704 eth1
*IA fec0:b200::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 3 0 5.5.5.5[1] fe80::260:8ff:fe2b:4d22 eth0

Esta tabela mostra o next-hop para cada um dos destinos, sendo o endereço link-local dos roteadores vizinhos que anunciaram o prefixo de destino para o roteador R2. Informações sobre as opções, área e Router ID do anunciante da rota também podem ser verificadas nesta tabela. O símbolo "::" indica que o responsável pela rota é o próprio roteador R2.

Estas rotas foram refletidas para a tabela de roteamento IP do kernel, como pode ser visto a seguir:

Kernel IPv6 routing table
Destination Next Hop Flags Metric Ref Use Iface
::1/128 :: U 0 12 0 lo
fe80::200:f8ff:fe04:3704/128 fe80::200:f8ff:fe04:3704 UAC 0 8 0 eth1
fe80::206:5bff:fe28:ab5e/128 :: U 0 69986 0 lo
fe80::220:afff:fe9b:feed/128 fe80::220:afff:fe9b:feed UAC 0 63 1 eth2
fe80::260:8ff:fe2b:4b33/128 :: U 0 21243 0 lo
fe80::260:8ff:fe2b:4d22/128 fe80::260:8ff:fe2b:4d22 UAC 0 8 0 eth0
fe80::260:8ff:fe3e:f338/128 :: U 0 72517 0 lo
fe80::/10 :: UA 256 0 0 eth1
fe80::/10 :: UA 256 0 0 eth2
fe80::/10 :: UA 256 0 0 eth0
fec0:100::1/128 :: U 0 168 0 lo
fec0:100::/24 :: UA 256 0 0 eth0
fec0:200::1/128 :: U 0 8 0 lo
fec0:200::/24 :: UA 256 0 0 eth1
fec0:300::/24 fe80::260:8ff:fe2b:4d22 UG 1024 15 1 eth0
fec0:400::/24 fe80::200:f8ff:fe04:3704 UG 1024 0 0 eth1
fec0:a100::/24 fe80::220:afff:fe9b:feed UG 1024 24 0 eth2
fec0:a200::2/128 :: U 0 5 0 lo
fec0:a200::/24 :: UA 256 0 0 eth2
fec0:b100::/24 fe80::260:8ff:fe2b:4d22 UG 1024 3 1 eth0
fec0:b200::/24 fe80::260:8ff:fe2b:4d22 UG 1024 0 0 eth0
ff02::5/128 ff02::5 UAC 0 4 0 eth1
ff02::5/128 ff02::5 UAC 0 4 0 eth0
ff02::5/128 ff02::5 UAC 0 4 0 eth2
ff02::1:ff00:1/128 ff02::1:ff00:1 UAC 0 1 0 eth0
ff00::/8 :: UA 256 0 0 eth1
ff00::/8 :: UA 256 0 0 eth2
ff00::/8 :: UA 256 0 0 eth0

A configuração e resultados para todos os roteadores são similares ao roteador R2. Os hosts devem ter seu gateway default configurado para o endereço IPv6 da interface do roteador que se encontra no link entre host e roteador.

Agora, veremos alguns conceitos sobre IPv6 no BGP (BGP4+) e, logo após, será mostrado o teste realizado com este protocolo.

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3. BGP com suporte a IPv6

Conforme relatado na RFC 2545 [11], o BGP é um protocolo de path vector, usado para transportar informações de roteamento entre sistemas autônomos. O termo path vector vem do fato de que as informações de roteamento BGP transportam uma seqüência de números de AS´s e os prefixos de rede, que identificam o caminho dos AS´s para a informação atravessar. As informações do caminho, associadas com o prefixo, são usadas para prevenir loops.

O BGP usa o TCP como protocolo de transporte (porta 179). Isto assegura que, todo o transporte das informações seja confiável.

Os roteadores que utilizam o protocolo BGP são chamados BGP speakers. Dois BGP speakers (peers ou vizinhos) estabelecem uma conexão TCP entre eles (sessão), com o propósito de trocarem informações de roteamento, conforme exemplificado na figura 5 [12]:

Roteadores BGP estabelecendo vizinhança

Figura 5 - Roteadores BGP estabelecendo vizinhança

O protocolo BGP, sem extensão, é capaz de carregar apenas informações de roteamento para o protocolo IPv4. Extensões deste protocolo para múltiplos protocolos de camada de rede possibilitam que o protocolo IPv6 seja, agora, suportado por BGP. Esta extensão para IPv6 é chamada de BGP4+ e, para multicast, MBGP [13].

As únicas partes de informação carregadas pelo BGP-4, que são específicas ao IPv4, são:

Para possibilitar que BGP-4 suporte roteamento para múltiplos protocolos de camada de rede, deve-se adicionar:

Dois novos atributos foram inseridos na extensão para o protocolo BGP, segundo a RFC 2858, para que múltiplos protocolos de rede pudessem ser difundidos:

Estes atributos são opcionais e, no caso de um BGP speaker não suportar multiprotocolo, este ignorará estas informações e não passará para seus peers. Seus formatos podem ser encontrados na RFC 2858.

Em termos de informações de roteamento, a diferença mais significante entre o IPv6 e o IPv4 (para o qual o BGP foi projetado originalmente) é o fato de que, no IPv6, é introduzido o escopo de endereços unicast e definem-se situações particulares quando um escopo particular de endereço deve ser usado [11]. Veremos algumas regras necessárias para a acomodação de endereços IPv6 e seus escopos, relacionando com os atributos de extensão acima citados.

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3.1 Experimentos com BGP com suporte a IPv6

A fim de realizar testes básicos com o protocolo BGP para IPv6, configurou-se uma topologia com 4 sistemas autônomos, sendo que um deles (AS 100) possui configurado o protocolo OSPF para IPv6. A figura 6 ilustra a topologia de teste:

Topologia de teste para BGP com IPv6

Figura 6 - Topologia de teste para BGP com IPv6

Nesta topologia, R1 executa apenas OSPF, e R3, R4, R5 e R6 executam apenas BGP. O roteador R2, sendo um roteador de borda entre AS´s (ASBR) e conversando com um roteador interno ao AS por OSPF e com um roteador externo ao AS por BGP, deve executar ambos os protocolos de roteamento. Ainda neste roteador, é necessária a redistribuição das rotas aprendidas por BGP para os OSPF e vice-versa, para que todas as rotas sejam aprendidas por todos os roteadores. Agregação de rotas não foi utilizada neste teste.

Serão mostrados a configuração do roteador R2 e os resultados das tabelas de roteamento. Inicialmente, a configuração das interfaces e a inicialização dos daemons "zebra", "ospf6d" e "bgpd" são necessárias:

ifconfig eth0 inet6 add fec0:0000::1/24
ifconfig eth1 inet6 add fec0:1000::1/24
ifconfig eth2 inet6 add fec0:a200::2/24

/usr/local/sbin/zebra -d
/usr/local/sbin/ospf6d -d
/usr/local/sbin/bgpd -d

Na inicialização do daemon ospf6d, como visto no experimento em 2.1, o arquivo de configuração do OSPF para IPv6 - ospf6d.conf -, fica no diretório /usr/local/etc do sistema. Já na inicialização do daemon bgpd, o arquivo bgpd.conf, no mesmo local, é procurado.

No caso do roteador R2, estes arquivos têm o seguinte formato:

OSPF6D.CONF
hostname R2
password ******

router ospf6
 router-id 2.2.2.2
 redistribute bgp
 interface eth0 area 0.0.0.0
 interface eth1 area 0.0.0.0
 interface eth2 area 0.0.0.0


BGPD.CONF
hostname R2
password *******

router bgp 100
       bgp router-id 2.2.2.2
       ipv6 bgp redistribute ospf6
       ipv6 bgp network fec0:a200::/24
       ipv6 bgp neighbor fec0:0000::2 remote-as 300
       ipv6 bgp neighbor fec0:1000::2 remote-as 200

Assim como no OSPF, o ROUTER ID do BGP permanece sendo de 32 bits. Tanto no OSPF quanto no BGP, foi necessária a redistribuição entre estes protocolos (redistribute). O comando network do BGP faz com que o roteador R2 anuncie esta rota por BGP, e os comandos neighbor indicam os peers e os AS´s aos quais os peers pertencem.

Após devidamente configurados todos os roteadores, as tabelas de roteamento OSPF e BGP de R2 ficam da seguinte forma:

Tabela OSPF
Destination Options Area Cost Type2 LS Origin Nexthop I/F
*IA fec0:a100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 2 0 1.1.1.1[0] fe80::220:afff:fe9b:feed eth2
*IA fec0:a200::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 1 0 1.1.1.1[3] :: eth2
Tabela BGP
BGP table version is 0, local Router ID is 2.2.2.2
Status codes: s suppressed, d damped, h history, * valid, > best, i - internal
Origin codes: i - IGP, e - EGP, ? - incomplete
Network Metric LocPrf Weight Path
* fec0::/24
fec0:1000::2(fe80::220:afff:fed2:bc2e)
0 200 300 i
*> fec0::/24
fec0::2(fe80::201:2ff:fe74:da90
0 300 i
* fec0:100::/24
fec0:1000::2(fe80::220:afff:fed2:bc2e)
0 200 300 i
*> fec0:100::/24
fec0::2(fe80::201:2ff:fe74:da90)

0 300 i
*> fec0:1000::/24
fec0:1000::2(fe80::220:afff:fed2:bc2e)

0 200 i
* fec0:1000::/24
fec0::2(fe80::201:2ff:fe74:da90)
0 300 200 i
* fec0:1100::/24
fec0:1000::2(fe80::220:afff:fed2:bc2e)
0 200 i
*> fec0:1100::/24
fec0::2(fe80::201:2ff:fe74:da90)
    0 300 i
*> fec0:a100::/24
::
0   32768 ?
*> fec0:a200::/24
::
  32768 i
* fec0:b100::/24
fec0:1000::2(fe80::220:afff:fed2:bc2e)
0 200 300 400 i
*> fec0:b100::/24
fec0::2(fe80::201:2ff:fe74:da90)
    0 300 400 i
* fec0:b200::/24
fec0:1000::2(fe80::220:afff:fed2:bc2e)
0 200 300 400 i
*> fec0:b200::/24
fec0::2(fe80::201:2ff:fe74:da90)
    0 300 400 i
Total number of prefixes 8

A tabela BGP mostra o next-hop, aprendidas tanto por endereços IPv6 site-local (non-link-local), quanto por endereços link-local, em concordância com o item 3b. As rotas com o símbolo ">" são as rotas preferidas, devido a ter um "peso" maior ou um "caminho" (número de AS´s) menor.

Estas rotas foram refletidas para a tabela de roteamento IP do kernel, como pode ser visto a seguir:

Destination Next Hop Flags Metric Ref Use Iface
::1/128 :: U 0 15 0 lo
fe80::203:47ff:fe23:570/128 :: U 0 3 0 lo
fe80::206:5bff:fe28:ab5e/128 :: U 0 20 0 lo
fe80::260:8ff:fe3e:f338/128 :: U 0 0 0 lo
fe80::/10 :: UA 256 0 0 eth0
fe80::/10 :: UA 256 0 0 eth1
fe80::/10 :: UA 256 0 0 eth2
fec0::1/128 :: U 0 55 0 lo
fec0::2/128 fec0::2 UAC 0 1 1 eth0
fec0::/24 :: UA 256 0 0 eth0
fec0:100::/24 fe80::201:2ff:fe74:da90 UG 1024 0 0 eth0
fec0:1000::1/128 :: U 0 539 0 lo
fec0:1000::2/128 fec0:1000::2 UAC 0 1 1 eth1
fec0:1000::/24 :: UA 256 0 0 eth1
fec0:1100::/24 fe80::201:2ff:fe74:da90 UG 1024 0 0 eth0
fec0:a100::/24 fe80::220:afff:fe9b:feed UG 1024 4 0 eth2
fec0:a200::2/128 :: U 0 195 0 lo
fec0:a200::/24 :: UA 256 0 0 eth2
fec0:b100::/24 fe80::201:2ff:fe74:da90 UG 1024 204 1 eth0
fec0:b200::/24 fe80::201:2ff:fe74:da90 UG 1024 0 0 eth0
ff02::5/128 ff02::5 UAC 0 285 1 eth2
ff02::5/128 ff02::5 UAC 0 1 0 eth0
ff02::5/128 ff02::5 UAC 0 1 0 eth1
ff00::/8 :: UA 256 0 0 eth0
ff00::/8 :: UA 256 0 0 eth1
ff00::/8 :: UA 256 0 0 eth2

Em R1, onde está sendo executado apenas o protocolo OSPF, pode-se verificar que as rotas aprendidas pelo BGP em R2, que são de outros sistemas autônomos, e redistribuídas para R1 via OSPF, possuem a marcação "E1" na tabela, mostrada a seguir:

R1

Destination Options Area Cost Type2 LS Origin Nexthop I/F
*IA fec0::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 2 0 192.168.10.1[0] fe80::206:5bff:fe28:ab5e ep1
*E1 fec0:100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 101 0 192.168.10.1[1] fe80::206:5bff:fe28:ab5e ep1
*IA fec0:1000::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 2 0 192.168.10.1[0] fe80::206:5bff:fe28:ab5e ep1
*E1 fec0:1100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 101 0 192.168.10.1[2] fe80::206:5bff:fe28:ab5e ep1
*IA fec0:a200::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 1 0 192.168.10.17[3] :: ep1
*E1 fec0:b100::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 101 0 192.168.10.1[3] fe80::206:5bff:fe28:ab5e ep1
*E1 fec0:b200::/24 V6E---R-- 0.0.0.0 101 0 192.168.10.1[4] fe80::206:5bff:fe28:ab5e ep1

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4. Considerações Finais

O BGP4+ é o EGP aceito para o backbone IPv6 de teste - 6Bone (RFC 2772). Diversas regras para configuração de IGPs e EGPs devem ser seguidas para a estabilidade deste backbone. Este artigo apresentou alguns conceitos importantes sobre mudanças ocorridas nos protocolos de roteamento OSPF e BGP para suportar o protocolo IPv6.

Além disso, foram mostrados resultados práticos da utilização destes protocolos usando o software gratuito GNU Zebra em sistemas Linux e FreeBSD. Tais resultados tornam-se importantes para o entendimento das diferenças de configuração em relação ao IPv4, além de serem interessantes para uma futura conexão ao 6Bone brasileiro e mundial.

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