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Atualizado em 5 de setembro
de 2000
Primeiro dia do workshop revelou necessidade urgente de
formação de mão-de-obra especializada em TI
Os primeiros debates do Workshop "Formação de Recursos Humanos
em Tecnologias da Informação no Estado do Rio de Janeiro",
iniciado ontem, dia 4 de setembro, mostraram que a necessidade
de mão-de-obra especializada para operar no mercado de tecnologia
da informação é urgente. O coordenador de Desenvolvimento
Humano da Secretaria Executiva do Gabinete do Governador do
Estado do Rio de Janeiro e presidente do PRODERJ, Fernando
Peregrino, comentou que, só no governo estadual, deve haver,
neste ano, um déficit de 4 mil pessoas para trabalhar no setor.
Foi criado, em agosto, um Conselho Estadual em Tecnologia
da Informação para avaliar a situação e estabelecer estratégias
no sentido de definir políticas e desenvolver o setor no Estado.
De acordo com os palestrantes presentes ao evento, o Rio
de Janeiro sai na frente ao realizar este workshop na tentativa
de mapear e traçar estratégias que visam à formação e treinamento
de recursos humanos em Tecnologia da Informação (TI) no Estado.
O presidente da FAPERJ, Antônio Celso, disse que o órgão dá
"apoio incondicional" à iniciativa e salientou que o investimento
em TI é um recurso importante para o enfrentamento da globalização.
O Ministério da Ciência e Tecnologia também tem demonstrado
que o setor deve ser alvo de atenção e orienta seus órgãos
financiadores neste sentido. Segundo Alice Abreu, representante
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
"a necessidade de formação de RH em TI é absoluta prioridade
do CNPq".
Carência de especialistas atinge outros países
A carência de mão-de-obra em TI não é privilégio do Brasil.
De acordo com o diretor executivo da Computing Research Association,
William Aspray, também é difícil achar profissionais qualificados
nos Estados Unidos. O palestrante mostrou um gráfico no qual
apenas um terço da mão-de-obra atualmente trabalhando na área
de tecnologia da informação tem formação em Engenharia de
Computação ou Informática. Embora os dados sejam de 1992/93,
Aspray diz que não houve grandes mudanças: a maioria das pessoas
que trabalha na área vem de outros setores, como Administração,
engenharias diversas, Comunicação etc..
A necessidade urgente de profissionais especializados levou
alguns a considerarem que é importante não só formar mão-de-obra
para o futuro, mas treinar as pessoas que já trabalham na
área. Na opinião da coordenadora geral do programa CNPq/Prossiga,
Ione Chastinet, "nós não conseguiremos seguir adiante sem
treinar quem já está no mercado". A mesma opinião foi expressa
pela vice-presidente de Ambiente, Comunicação e Informação
da Fundação Oswaldo Cruz, Maria Cecília Minayo: "As pessoas
que trabalham com TI são, muitas vezes, livres atiradores."
Ela diz que faltam programas de reciclagem para esta mão-de-obra.
Especialistas brasileiros são "exportados" para o estrangeiro
Foi entendimento geral do auditório que, se não há muitas
pessoas qualificadas no país, as que há acabam sendo "importadas"
por empresas e centros de pesquisa estrangeiros. É importante
criar oportunidades para fixar nossos quadros no Brasil. José
Luiz Ribeiro Filho, representante da RNP, acredita que a demanda
externa por mão-de-obra será cada vez maior, pois o mercado
cresce muito mais rapidamente do que a oferta de profissionais
formados.
Para o diretor da FIESP, Flávio Grinszpan, a fuga é natural:
a baixa oferta de mão-de-obra faz com que as multinacionais
tenham dificuldades para trazer seus centros de pesquisa para
o país, importando, por outro lado, os poucos profissionais
existentes. Segundo Grinszpan, é preciso investir fortemente
nas novas gerações para que este quadro se reverta, preparando
especialistas em abundância. Deste modo, empresas estrangeiras
seriam atraídas para o país e desenvolveríamos as nossas próprias
empresas.
Enquanto as universidades têm, em geral, uma visão de longo
prazo, procurando formar profissionais através de seus cursos
de graduação e pós-graduação, o mercado é mais imediatista.
É o que revelou uma pesquisa realizada durante a Fenasoft.
O representante da Associação das Empresas Brasileiras de
Software e Serviços de Informática (Assespro) junto ao Conselho
de Tecnologia da FIRJAN, Newton Palhano, alerta que as empresas
"estão buscando mais formação técnica do que acadêmica". Palhano
acrescenta que as parcerias entre empresas e universidades
têm esbarrado no problema da "infidelidade de algumas universidades".
Segundo ele, quando a parceria dá certo, as universidades
se retiram para formar suas próprias empresas, o que prejudicaria
as companhias que se dispuseram a formar estas parcerias.
O palestrante fez questão de não generalizar, mas afirmou
que a tônica é mesmo esta "atitude anti-ética".
Coordenador do Comitê Gestor diz que é necessário estabelecer
prioridades
Ivan Moura Campos, coordenador do Comitê Gestor da Internet
no Brasil, acha que o que falta é objetividade no estabelecimento
de prioridades. Bastante aplaudido, Campos fez uma crítica
veemente da dissociação entre pesquisa e produção: "No Brasil,
Ciência não vira PIB", protestou. Segundo ele, nos Estados
Unidos a indústria é responsável pela maior parte da inovação
e formação de RH em Tecnologia da Informação. Ivan Campos
defendeu ainda que os institutos de fomento do governo deveriam
induzir as pesquisas mais claramente, apoiando um número maior
de "pesquisas aplicadas", ao invés de "pesquisas de base".
Segundo o palestrante, a primeira traz resultados, é voltada
para um fim específico, para a produção e, por isto, economicamente
mais importante. A pesquisa de base não tem aplicabilidade
imediata, tem como premissa um objetivo teórico.
O coordenador de Desenvolvimento Humano do Estado, Fernando
Peregrino, alegou que a indução de pesquisas já estava sendo
feita, mas que era importante haver espaço para todo tipo
de pesquisa, "se não vira briga entre o pessoal de TI e o
pessoal de Física, o pessoal de Biotecnologia e o de Filosofia
etc.", lembrou.
Educação a distância é caminho para formação
em larga escala
O último painel do workshop tratou do tema "Metodologias
para formação em larga escala". O representante do MCT junto
à Unirede e professor da Universidade Federal Fluminense,
Waldimir Longo, sugeriu que "o Brasil está ainda no século
XIX enquanto o resto do mundo vai para o século XXI." Na opinião
de Longo, o investimento em educação é fundamental para o
desenvolvimento do país. O professor lembrou que os Estados
Unidos têm como meta para este século fazer com que todo cidadão
norte-americano tenha o terceiro grau completo. "Para isto,
é preciso outra forma de ensinar que não seja colocando todos
os estudantes numa sala de aula".
Pelo que se pôde concluir das palestras, o ensino a distância,
com utilização de recursos interativos, é um caminho para
uma educação mais abrangente, democrática e efetiva. Mas,
para que ela se torne mais abrangente, é preciso mudar a legislação,
segundo o diretor executivo da Universidade Virtual Brasileira,
João Vianney. Um dos empecilhos apontados por Vianney é que
a legislação não permite a formação do aluno através de uma
associação de faculdades, isto é, com o currículo composto
por disciplinas feitas em instituições diversas ao mesmo tempo.
Waldimir Longo acha que a tendência é acabar a diferenciação
entre "ensino a distância" e "ensino presencial". Para ele,
o uso de recursos interativos e de rede se tornará uma realidade
tão irrefutável que não fará sentido distinguir entre um e
outro.
O primeiro dia do workshop "Formação de Recursos Humanos
em Tecnologias da Informação no Estado do Rio de Janeiro"
apresentou os painéis "Demanda por RH em TI nas organizações
públicas e privadas"; "Conteúdos básicos do profissional para
a nova economia" e "Metodologias para formação em larga escala".
O sucesso dos debates foi tanto que o evento teve sua duração
prorrogada por mais de duas horas. Hoje os grupos de trabalho
estão reunidos com o fim de elaborar propostas que atendam
à questão da formação de RH em TI no Rio de Janeiro. A plenária
final, com síntese dos diagnósticos elaborados pelos GTs,
ocorrerá amanhã, a partir de 9h.
[RNP, 05.09.2000]
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workshop@nc-rj.rnp.br
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