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- Clipping
Colonização tecnológica
Estudar e aplicar tecnologias que vêm de fora é o que
há de mais comum no Brasil. Isso significa a morte da indústria
nacional?
Alessandra Duarte
TI Master
http://www.timaster.com.br/
05.09.00
Responda rápido: quantos engenheiros de software você
conhece? Hmm, está difícil? Então pense
quantos conhecidos seus são administradores de rede.
Isso pode parecer irrelevante, mas significa algo importante:
estudar e aprender tecnologias que vêm de fora é
o que mais se faz no Brasil. Afinal, como competir com Oracle,
Microsoft e afins?
Esse foi um dos pontos levantados em palestras do workshop
Formação de Recursos Humanos em Tecnologia
da Informação para o estado do Rio de Janeiro,
que entre os dias 4 e 6 de setembro reuniu, no Instituto de
Matemática Pura e Aplicada (IMPA), profissionais e
representantes da área de TI do Governo do Rio, das
empresas privadas e do meio acadêmico.
Newton Palhano, diretor-executivo da Assespro-RJ (Associação
das Empresas Brasileiras de Software e Serviços de
Informática), foi enfático ao dizer que o Brasil
não passa de um repassador de tecnologias.
- Não podemos querer isso para nós. Senão
vamos ser apenas licenciadores de coisas do exterior.
Para Ivan Moura Campos, coordenador do Comitê Gestor
da Internet no Brasil, aumentar a qualidade da força
de trabalho em TI passa necessariamente por um investimento
na criação de tecnologias próprias.
- Temos que descobrir quais estratégias queremos para
nós e não para o Media Lab. O Brasil não
precisa buscar inspiração num laboratório
chique ao norte do Equador.
Campos ainda comparou os investimentos em Tecnologia da Informação
por países centrais e periféricos à corrida
do ouro no Oeste dos Estados Unidos. De acordo com ele, ao
contrário do que se costuma pensar, muito pouca gente
ficou rica com o ouro.
- A maioria enriqueceu vendendo dinamite, pá, carrinho.
E é isso que se faz aqui, o que é diferente
do ouro encontrado por um "Bill Gates" da vida.
Falta de empreendedorismo
Um contraponto ao clima de nacionalismo foi dado pelo palestrante
Flávio Grynzspan, diretor da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Ele não concorda com o senso comum de que criação
de tecnologia de ponta se restringe à matriz das multinacionais
nos países centrais.
- Não existe isso de empresas estrangeiras não
instalarem aqui centros de pesquisa avançada. Na Motorola,
por exemplo, a maioria das pesquisas não é local.
Todos os seus centros são integrados. O estudo do centro
num país tem uma continuação no de outro,
até para a companhia se aproveitar do fuso horário
e "aumentar" o tempo de pesquisa declarou
Grynzspan.
Para o diretor da Fiesp, uma das maneiras de se formar mão-de-obra
qualificada no Rio é torná-lo um pólo
de atração de investimentos e centros de pesquisa
de empresas.
Outro problema para a produção de tecnologia
na região, segundo Grynzspan, é que falta ao
estado uma tradição de empreendedorismo.
- Não existe ainda uma cultura do risco aqui, diferentemente
de São Paulo. O Rio ainda tem uma tradição
de emprego público muito forte.
Para Newton Palhano, da Assespro, uma das coisas que fazem
o país continuar repetindo produtos sem criar os seus
próprios é a visão de imediatismo do
empresário.
- A visão empresarial é em cima do resultado.
Ele primeiro percebe a sua empresa e o desenvolvimento dela
para depois perceber o desenvolvimento da tecnologia no país.
Se uns penderam para o lado nacionalista e outros nem tanto,
um consenso geral no workshop foi a necessidade de foco. Flávio
Grynszpan afirmou que a capacidade de competição
se faz com um enfoque bem definido em áreas que ainda
não foram bem exploradas.
- Não adianta ser mais ou menos bom em várias
coisas, você tem que escolher. A gente não pode
querer competir com os americanos nas áreas em que
eles estão investindo, porque a nossa capacidade de
investimento é muito menor. A gente pode investir,
por exemplo, em Internet 2, em celulares de terceira geração.
A mesma necessidade de foco foi levantada por Ivan Moura
Campos, do Comitê Gestor. Segundo ele, a tecnologia
brasileira acaba se tornando "balcão" de
produtos estrangeiros, em parte porque os investimentos são
mal direcionados.
- O timing das duas partes, o mercado e a Academia, tem de
ser respeitado nessa definição de metas. Mas
isso tem de ser feito, temos de encontrar as tecnologias-chave
para o estado.
Tomara que isso aconteça, não só no
Rio, mas em todo o Brasil.
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workshop@nc-rj.rnp.br
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