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- Clipping
Certificação X formação acadêmica
Segundo estudo da Assespro-RJ, as empresas valorizam mais
o treinamento técnico direcionado. Universidades buscam formas
de se aproximar do mercado
Alessandra Duarte
TI Master
http://www.timaster.com.br/
05.09.00
O que é melhor: uma graduação sólida
ou um bom programa de certificação técnica?
A formação desejada de mão-de-obra técnica
também foi discutida no workshop Formação
de Recursos Humanos em Tecnologia da Informação
para o estado do Rio de Janeiro, que entre os dias 4 e
6 de setembro reuniu, no Instituto de Matemática Pura
e Aplicada (IMPA), profissionais e representantes da área
de TI do Governo do Rio, das empresas privadas e do meio acadêmico.
Segundo um estudo da Assespro-RJ (Associação
das Empresas Brasileiras de Software e Serviços de
Informática) com suas 194 empresas associadas, feito
especialmente para o evento e apresentado pelo seu diretor-executivo,
Newton Palhano, o que as companhias de TI querem mesmo é
uma formação técnica ou seja,
profissionais que cheguem para resolver um problema e não
para pensar em novas tecnologias. São, enfim, as famosas
certificações Cisco, Microsoft, Oracle e por
aí vai.
Isso não significa que a apologia à certificação
seja uma unanimidade. Carlos Lucena, professor de Informática
e coordenador do Laboratório de Engenharia de Software
da PUC-RJ, preferiu abordar o outro lado da moeda: a qualidade
da formação no meio acadêmico brasileiro.
Em sua palestra, declarou que a exigência legal de um
currículo mínimo na faculdade gera problemas
de atualização do conhecimento adquirido pelo
aluno.
- Se você entra no ano X na universidade, não
pode deixar de cursar nenhuma das matérias que existiam
naquele ano na grade curricular. Só que, daqui a cinco
anos, que é quando você vai estar terminando
o curso, as matérias daquela época já
estarão obsoletas para o mercado analisou.
O conselho que Lucena deu aos estudantes da área tecnológica
foi, então, procurar matérias eletivas mais
atuais. No fim das contas, acontece o que cansamos de ouvir
por aí: meio acadêmico dissociado do mercado,
abrindo uma brecha para as certificações de
fabricantes entrarem.
Uma solução para esse descompasso entre conhecimento
acadêmico e de mercado foi proposta pelo palestrante
Pedricto Rocha Filho, subsecretário de Ciência
e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro. Rocha Filho expôs
os planos do Governo estadual de criar uma formação
de Tecnólogo, que combinaria teoria e prática.
- Não seria nem uma graduação nem um
"tecnicão", no sentido pejorativo. Só
que isso é uma coisa que estamos começando a
incentivar, mas que tem que contar com a iniciativa das instituições
de ensino também.
Muita pesquisa e pouca ação
Outra conseqüência de uma estrutura que separa
formação universitária de mercado é
que o meio acadêmico, dessa maneira, passa a ser produtor
de conhecimento puro, sem a preocupação com
uma eventual aplicação prática.
A demonstração desse segundo problema veio
à tona na palestra de Ivan Moura Campos, coordenador
do Comitê Gestor da Internet e diretor-presidente da
Akwan Information Technologies. De acordo com uma pesquisa
mostrada por ele, a responsabilidade pela inovação
tecnológica no Brasil fica para as universidades
56,7% dessa inovação vêm da Academia,
enquanto os institutos de pesquisa ficam com 12,3% e a indústria,
com apenas 8,7%. Nos Estados Unidos, a situação
é inversa. A indústria é a grande fonte
de inovação e criação tecnológica
(cerca de 76%).
- O problema aqui no Brasil é que, para nós,
empresa é que gera riqueza. Ciência não
vira PIB na nossa concepção. O contribuinte
não entende por que tem de pagar por ciência,
por exemplo afirmou Moura Campos.
Quer ver uma boa ilustração do que Ivan Moura
Campos disse? É só ir a praticamente qualquer
universidade brasileira e procurar por um departamento de
patentes. Não se espante se não achar. Agora,
se a busca for por artigos e publicações de
pesquisadores, a coisa muda de figura.
- O Brasil não faz patentes, ele publica foi
um dos pontos abordados por Flávio Grynszpan, diretor
da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp).
O coordenador do Comitê Gestor, Ivan Moura Campos,
explicou ainda a diferença entre a produção
acadêmica e a empresarial e que gera tantos conflitos
de entrosamento entre os dois setores. Na universidade, você
ensina o profissional a pesquisar e a se tornar independente
(mesmo que você consiga resolver aquele problema do
projeto mais rapidamente, você deixa ele quebrar a cabeça
primeiro). Já a empresa só quer saber se o profissional
resolveu esse problema ou conseguiu implementar aquela solução.
- Isso não é defeito. São duas realidades
distintas, mas que têm que se compreender.
Ivan Moura Campos criticou ainda o pensamento de muita gente
quando o assunto é concepção de tecnologia,
que é a de uma criação linear, indo da
pesquisa básica à aplicada numa linha reta.
Segundo Campos, deveria haver a preocupação
com a aplicação desde a primeira etapa do planejamento
quando o interesse é produzir algo.
Pela expressão nos rostos de muitos acadêmicos
presentes, Campos tocou na ferida e expôs uma polêmica
que ainda vai render muito, mas muito mesmo na área
de tecnologia. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.
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