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Redes de alto desempenho para integrar Brasil e Argentina


Jornal da Ciência

Artigo de José Monserrat Filho

13.03.2008


“Pelo projeto aprovado na reunião do Rio de Janeiro, a RNP e a InnovaRed têm como primeira tarefa interligar, com capacidade de rede própria, Porto Alegre e Buenos Aires a 1 Gigabit por segundo, para aplicações em educação, pesquisa, cultura e saúde.”

José Monserrat Filho é chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais do Ministério da Ciência e Tecnologia. Artigo enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

Primeiro, redes de comunicação de alto desempenho integrarão Brasil e Argentina. Depois, integrarão o Mercosul. Para tanto, a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), brasileira, e a InnovaRed, argentina, vão se reunir em breve, para articular a criação de nova e poderosa infraestrutura de comunicação interligando os dois países.

O projeto deverá elevar em grande escala a capacidade de comunicação entre Brasil e Argentina e permitir, em seqüência, um salto qualitativo na interação eletrônica de todo os países do Mercosul. Esta infra-estrutura, demanda própria do século 21, é absolutamente indispensável ao avanço e fortalecimento do bloco, que tem encontrado sérias dificuldades de integração. Ela abre novas e amplas perspectivas de interação concreta e trabalho conjunto na região em áreas vitais de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Num momento de grave crise nas relações entre alguns países sul-americanos, a proposta aprovada com entusiasmo pela 5ª Reunião do Comitê Gestor de Alto Nível Brasil-Argentina de Cooperação em Ciência e Tecnologia, realizada em 6 e 7 do corrente, no Rio de Janeiro, surge como alternativa de cooperação pacífica e integrada em área básica, que pode, deve e precisa unir os países do continente.

Coordenado em aliança pelos Ministérios de Ciência e Tecnologia do Brasil e da Argentina, o referido Comitê Gestor atribuiu tal relevância ao projeto que resolveu propor sua incorporação como o quinto item da agenda de prioridades em ciência, tecnologia e inovação estabelecida pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner, em Buenos Aires, em 22 de fevereiro passado. (As outras prioridades são os projetos nuclear, espacial, de nanociência e nanotecnologia, e de energias novas e renováveis.) As redes de alto desempenho têm evidente caráter estratégico. Virão dinamizar todos os demais projetos de integração e trabalho conjunto.

Tudo iniciou em 2004, quando a Rede Clara começou a operar. Ela hoje beneficia 12 países latino-americanos, interligando cerca de 600 instituições de educação e pesquisa. Esta rede de comunicação e colaboração, baseada no aluguel de serviços de telecomunicações, foi financiada nestes quatro anos pelo Projeto Alice (sigla de América Latina Interconectada com Europa).

Custou 12,5 milhões de euros, dos quais 10 milhões vieram de ajuda européia e 2,5 milhões, das redes nacionais de educação e pesquisa beneficiadas, como a nossa RNP.

O Projeto Alice esgota-se neste março de 2008. Há que renová-lo para os próximos cinco anos, agora com maior contrapartida regional, da ordem de 50%. Mas graças à renegociação dos atuais contratos com os fornecedores e à contribuição das organizações participantes, a Rede Clara seguirá operando, sem interrupções, até o final deste ano.

Para renovar o co-financiamento europeu, as lideranças brasileiras do setor entendem que deve se formular nova proposta de integração regional, capaz de ampliar a sustentação da rede em longo prazo. Para o diretor-geral do RNP, Nelson Simões, tal ação implica não só uma contrapartida maior de recursos latino-americanos – para o que muito contribui a atual iniciativa do Brasil e da Argentina –, mas também a mudança na forma de contratar a infra-estrutura de telecomunciações pelos países da região: no lugar de apenas alugar serviços, é preciso empenhar-se em adquirir capacidade e competência.

A Argentina, após ter sua participação na rede restabelecida em 2007, reorganizou-se e criou nova rede nacional de pesquisa e inovação, a Innovared, ligada ao Conselho Nacional de Investigação em Ciência e Tecnologia (Conicet).

Hoje, Argentina e Brasil trabalham juntos em importantes programas de C&T, como, por exemplo, o Projeto Auger (do qual também participam outros países), que estuda as radiações cósmicas de altas energias; a previsão do clima, que usa modelos em computação de alto desempenho; e o Projeto Mercosul-União Européia sobre Sociedade da Informação, que inclui a escola virtual e o comércio eletrônico. Estes programas e outros exigem melhor comunicação e dependem por inteiro de uma infra-estrutura de alto desempenho de redes que integre os dois países.

O Plano de Ações de C&T do Governo (PAC da C&T), lançado em 2007, prevê ações de P&D em tecnologias digitais que nos dão micro-eletrônica, TV digital, software e redes avançadas, com metas a serem atingidas até 2010 com a criação de redes de colaboração temática apoiadas pela RNP. Assim a infra-estrutura nacional de redes de alto desempenho se expandirá, integrando, até o final deste ano, todas as organizações usuárias da RNP sediadas nas capitais dos estados na velocidade de 1 Gigabit por segundo. Serão cerca de 300 entidades conectadas por fibra ótica metropolitana própria. E, até 2010, a rede nacional multigigabit deve atingir todos os estados.

A meta agora é aplicar esta fórmula à integração com a Argentina e com os outros países do Mercosul. A ambiciosa operação pede a parceria de empresas detentoras de infra-estrutura ou direitos de uso para a criação de redes de comunicação. São empresas de energia elétrica, telecomunicações, petróleo, transporte, entre outras. Desta parceria é que nascerá o projeto de arrendamento de alta capacidade de comunicação ou de sua criação, com o qual poderemos integrar, primeiro, o Brasil e a Argentina, e, depois, o Mercosul.

Pela projeto aprovado na reunião do Rio de Janeiro, a RNP e a InnovaRed têm como primeira tarefa interligar, com capacidade de rede própria, Porto Alegre e Buenos Aires a 1 Gigabit por segundo, para aplicações em educação, pesquisa, cultura e saúde. Ao mesmo tempo, haverá que promover ações conjuntas do mais alto nível político para expandir as redes nacionais de pesquisa, dando suporte aos grande projetos estratégicos para os dois países. E logo iniciar a mesma integração com o Uruguai, Chile e Paraguai.

Não será uma jornada fácil. Mas seu êxito é fundamental para todos nós.

fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=54828

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