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Internet mil vezes mais rápida!


Com Ciência

Sueli Mello

18.08.2006


Implementada no país nos meados da década de 90, a Internet ainda não alcançou uma abrangência que possa classificá-la como democrática. Na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, o IBGE constatou que apenas 12,2% dos domicílios brasileiros tinham computador com acesso à Internet, o que corresponde a aproximadamente 21,6 milhões de pessoas. Mesmo assim, as pesquisas para o aprimoramento da rede, como as do Projeto Kya Tera, da Unicamp, ou do Projeto Giga, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, de Campinas (SP), só têm avançado e prometem novidades capazes de beneficiar acadêmicos, empresas e o cidadão comum.

Um exemplo é a perspectiva de em vez de alugar um DVD numa locadora, o usuário possa “baixar” o filme pela rede em poucos segundos, sem limitação de disponibilidade na prateleira. Mas isso é pouco quando se tem conhecimento do que está por vir: um médico poderá observar, de qualquer computador, exames com imagens de alta resolução, e agilizar um diagnóstico. Biólogos poderão analisar via web pormenores de uma abelha criada em estufa. Aulas e experimentos poderão ser realizados à distância: um pesquisador de um laboratório da USP poderá controlar, por meio de softwares desenvolvidos para a rede, instrumentos de um laboratório da Unicamp, e fazer uma videoconferência com os envolvidos.

Essas possibilidades já estão sendo desenvolvidas no Projeto Kya Tera, trabalho cooperativo desenvolvido a partir do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW), da Unicamp, para a criação de tecnologias de alto impacto nas áreas de informação e comunicações. O projeto é ligado ao TIDIA, programa para o aprimoramento de Tecnologia da Informação no Desenvolvimento de Internet Avançada, financiado pela Fapesp.

Outro trabalho visando o desenvolvimento de Internet rápida é o Projeto Giga, iniciado em janeiro de 2003, coordenado pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), em Campinas, e pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), no Rio de Janeiro, que implementou a Rede IPË, usada pela RNP para interligar as principais instituições de ensino e pesquisa do país.

São projetos colaboradores e, de certo modo, complementares. Embora sejam voltados para pesquisa e desenvolvimento (P&D), o Giga pesquisa novas tecnologias e transfere know how para empresas brasileiras. O Kya Tera atua predominantemente na formação de pessoal, interligando laboratórios para a troca de informações. Ambos realizam trabalhos conjuntos e o ponto de interligação é o CPqD, de Campinas.

Miriam Regina Xavier de Barros, pesquisadora do CPqD, explica que o Giga está entre as maiores redes experimentais do mundo, com 750 km de extensão. Utilizando fibras ópticas e infra-estrutura de quatro operadoras de telecomunicação, possui linhas específicas para teste de equipamentos, num ambiente semelhante ao que serão utilizados na prática, sem causar impacto negativo para os usuários da rede. O mesmo recurso é oferecido pelo projeto Kya Tera, que em tupi-guarani, significa rede (de pesca) gigantesca.

Laboratório de apoio da rede, onde são colocados os protótipos em teste

O fundamento da evolução para uma Internet mais rápida é a substituição gradativa dos fios de cobre (da rede telefônica) por fibras ópticas, que por características físicas têm muito maior capacidade de transmissão de dados. Tais redes têm sido chamadas de Internet 3 ou 4. Basicamente, as pesquisas consistem em estudar os motivos pelos quais a Internet não é estável, identificar fatores que possam interferir na transmissão da luz pelas fibras ópticas, o modo como lidar com eles para intensificar a velocidade de transmissão, e o uso desse conhecimento para o desenvolvimento de novos materiais, equipamentos e aplicações.

Segundo a pesquisadora do CPqD, a banda que o usuário recebe hoje está entre 256 kb/s e 8 Mb/s (tecnologia ADSL, oferecida pelas operadoras de telecomunicação, e tecnologia de cable modem, oferecida pelas provedoras de TV a cabo). Com as novas tecnologias, que permitirão levar a fibra óptica até as dependências do usuário, esta banda pode chegar até centenas de Mb/s. Com a multiplexação de freqüências (CWDM), uma combinação de vários canais ópticos com freqüências diferentes em uma única fibra, que multiplica sua capacidade de transmissão por um fator correspondente ao número de canais, a banda disponível hoje pode aumentar em mil vezes.

Além da velocidade, a transmissão por fibra tem ainda um aspecto econômico. Segundo o gerente de rede do Laboratório de Comunicações Ópticas da Unicamp, ligado ao Kya Tera, Marco Aurélio Quesada Fortes, a tendência é que ela se torne mais barata, até para o usuário comum, pois acabará com a dependência do limite de largura de banda oferecido pelo prestador de serviços. Em vez de contratar um serviço de 100 megabits ou 1 gigabit por segundo, que devido ao custo tornaria inviáveis experiências como a medicina remota, o usuário pagará apenas pelo uso da fibra, mais em conta.

Distribuidor Interno Óptico sendo manipulado por Fortes

Obviamente há um longo caminho a ser trilhado. Atualmente o projeto Giga sofre uma lentidão pelo atraso dos recursos do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). E o Kya Tera, já conectado a diversas cidades do interior de São Paulo, ainda não conseguiu chegar à capital, devido ao alto custo das concessões para uso das redes de telecomunicações.

Para atrair novos colaboradores, o Kya Tera está com inscrições abertas, até o dia 31 de agosto, para pesquisadores de redes ópticas interessados em desenvolver tecnologias em colaboração com outros grupos do mundo e testá-las na rede de alta capacidade totalmente dedicada ao projeto, cujas fibras chegam até os laboratórios. Pesquisadores de todas as áreas, que desejem desenvolver web labs a partir dos equipamentos disponíveis na Unicamp, podem submeter suas propostas a qualquer tempo. Assim como empresas e centros de P&D para firmar parceria para desenvolvimento de inovações tecnológicas.

fonte: http://www.comciencia.br/comciencia/?section=3&noticia=188

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