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Infra-estrutura para cooperação científica à distância


Agência Estado

Michael Stanton

27.03.2005


Cada vez mais aumenta a cooperação à distância na área de pesquisa científica, fruto direto das enormes melhorias em comunicação remota trazidas pelos avanços tecnológicos que vêm revolucionando a comunicação digital nos últimos vinte e cinco anos, e que ainda não dão sinais de arrefecimento. O aumento impressionante da capacidade dos meios de comunicação aliado à queda brutal do seu custo hoje tornam viáveis novas formas de interagir remotamente, usando meios visuais ao invés apenas os de telefonia, e permitem a colaboração íntima entre computadores distantes, possibilitando seu uso em conjunto na solução de problemas antes intratáveis. É nítida a determinação de comunidades e países para buscar aproveitar as oportunidades criadas para tornar mais produtivos seus investimentos, revertendo seus benefícios para muitos setores de aplicação das novas tecnologias de informação e das comunicações (as TIC), especialmente na saúde, educação e desenvolvimento econômico, num esforço freqüentemente qualificado como a construção da sociedade de informação ou do conhecimento, dando reconhecimento à posição central ocupada em nossas sociedades por tecnologias novas que lidam com a transmissão, armazenamento e manuseio de informação.

O esteio destas atividades vem se chamando de "infra-estrutura eletrônica" (em inglês, e-infrastructure), e combina redes de comunicação de alto desempenho com a montagem de poderosos recursos computacionais distribuídos, normalmente providos por um número grande de computadores individuais, ou de conjuntos destes, que juntos colaboram na solução de problemas maiores - as chamadas grades computacionais. Fala-se que esta infra-estrutura eletrônica serve para viabilizar "ciência eletrônica" (em inglês, e-science). O grande programa de desenvolvimento neste setor da União Européia, o Programa IST (Tecnologias da Sociedade de Informação - v. www.cordis.lu/ist/about/about.htm), há vários anos vem fomentando um largo espectro de atividades de pesquisa e desenvolvimento nas TIC, explicita sua preocupação em infra-estrutura eletrônica no atual ciclo de quatro anos, de 2002 a 2006 (v. www.cordis.lu/ist/rn/home.html). Seu foco está em melhorias da rede GÉANT, a rede pan-européia que interliga as redes nacionais de mais de 30 países, e em montar uma capacidade computacional distribuída baseada em grade, capaz de prestar serviços para a ciência eletrônica em regime de produção.

A GÉANT (v. www.geant.net) é apenas a parte mais visível do investimento recente dos europeus em comunicação de alto desempenho. Para colocar Europa numa posição de destaque no mundo atual da comunicação digital, a União Européia vem investindo em promover novas conexões para outras regiões do mundo: a África, Oriente Médio, Ásia Central, Ásia Oriental e América Latina. Esta última iniciativa, chamada ALICE (América Latina Interconectada com a Europa - v. alice.dante.net), foi a responsável para a montagem da Rede CLARA, interligando as redes nacionais de países da América Latina, inclusive a RNP do Brasil, com um enlace entre São Paulo e Madri, para estabelecer a conexão para GÉANT (v. www.redclara.net).

Na área das grades computacionais, os físicos do CERN, a Organização Européia para Pesquisas Nucleares (v. www.cern.ch), vêm planejando há vários anos o manuseio dos futuros resultados experimentais a serem gerados quando seu novo acelerador LHC (Grande Colisionador de Hadrões), atualmente em construção, começar a funcionar em 2007. Para tanto, vem promovendo a montagem da LCG (Grade Computacional do LHC) para distribuir a tarefa de processar computacionalmente estes resultados em laboratórios ao redor do mundo. Já haviam sido mencionados na coluna de 20 de novembro de 2004 alguns dos grupos brasileiros envolvidos nesta colaboração. Os físicos freqüentemente são os primeiros a explorar as novas tecnologias, e este foi o caso das grades computacionais. Entretanto, já foi reconhecida a ampla aplicabilidade a outras áreas de ciência da tecnologia de grades, e novos projetos agora são dirigidos para atender a "ciência eletrônica", de forma geral, incluindo, naturalmente, a física das altas energias.

No caso do programa IST dos europeus, o grande projeto de grades para ciência eletrônica se chama EGEE (Enabling Grids for E-sciencE - v. public.eu-egee.org/intro). Este projeto, que começou em 2004, já conta nos primeiros dois anos com financiamento de 30 milhões de Euros do Programa IST, e envolve 70 parceiros de universidades e instituições de pesquisa, liderados pelo CERN. O projeto pretende montar uma sólida infra-estrutura eletrônica, desenvolver software de suporte (middleware) e promover treinamento na utilização e na extensão desta infra-estrutura para aplicações.

Mais recentemente, com a evidente intenção de dar seqüência à iniciativa EGEE, aproveitando o novo acesso entre Europa e América Latina proporcionado pela montagem da Rede CLARA, em março de 2005 foi proposto ao Programa IST um novo projeto, EELA (E-Infrastructure shared between Europe and Latin America - v. http://www.eela-grid.org), envolvendo 22 parceiros entre Europa e América Latina. O EELA propõe estender os conceitos e a infra-estrutura de EGEE para alguns dos países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Cuba, México, Peru e Venezuela), montando uma infra-estrutura eletrônica e promovendo treinamento em uso de grades computacionais em diferentes áreas da ciência eletrônica. No Brasil, os parceiros do EELA incluem várias entidades públicas localizadas no estado do Rio de Janeiro (CEDERJ, CNEN, UFF, UFRJ). A organização CLARA participará coordenando o suporte de redes para EELA em América Latina, com participação da RNP no Brasil. Do lado europeu, a maioria dos parceiros é da Espanha, mas há participação também de instituições de Portugal e Itália, além do CERN.

É importante reconhecer que também existem iniciativas puramente brasileiras com objetivos semelhantes, ou seja, de realizar a montagem de infra-estrutura eletrônica a nível nacional. Uma destas é a SINAPAD (Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho - v. www.lncc.br/sinapad), uma federação de sete CENAPADs (Centros Nacionais de Processamento de Alto Desempenho) localizados em universidades e centros de pesquisa nas cidades de Fortaleza, Belo Horizonte, Petrópolis, Rio de Janeiro, Cachoeira Paulista, Campinas e Porto Alegre (v. www.lncc.br/sinapad/cenapads.php). As recentes melhorias na capacidade das redes de comunicação no país, especialmente da rede ANSP, no estado de São Paulo, e da RNP, nos demais estados e entre estes e São Paulo, agora permitem realizar a antiga pretensão de oferecer um serviço em produção de computação intensiva através da cooperação dos CENAPADs.

A criação de infra-estrutura eletrônica, aos níveis nacional e internacional, é visto como passo ímpar para aprofundar os laços de cooperação remota entre os cientistas que dependem da abundância de recursos computacionais para realizar suas pesquisas. Ela também serve como modelo para o futuro da provisão de recursos computacionais de alto desempenho ou em grande escala para o setor produtivo.

Michael Stanton (michael@ic.uff.br), que é professor do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense e também Diretor de Inovação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), escreve neste espaço desde junho de 2000 sobre a interação entre as tecnologias de informação e comunicação e a sociedade. Os textos destas colunas estão disponíveis para consulta.

fonte: http://www.estadao.com.br/tecnologia/coluna/stanton/2005/mar/27/83.htm

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