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Mulheres em Segurança da Informação


Módulo Security Magazine

Luis Fernando Rocha

08.12.2003


Se você é homem e profissional de segurança, peço a gentileza de reservar um minuto de seu tempo para olhar atentamente ao redor de seu ambiente de trabalho. Calma, essa não é uma pegadinha ou mais uma piada infame! Na verdade, queremos ter a certeza que nesse exato momento você visualizará pelo menos uma mulher ocupando um cargo nesse mercado.


No entanto, a 1ª Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Profissional em Segurança da Informação, realizada entre maio e julho de 2003 pelo Módulo Education Center e o Grupo de Pesquisa em Segurança da Informação da PUC-Rio, com cerca de 950 profissionais, revela que apenas 14,77% dos profissionais do país são mulheres.


Mas vamos refletir: estamos em pleno século XXI e é sabido que diversas barreiras envolvendo a segregação de sexo no mercado de trabalho já foram vencidas. Então, como explicar o baixo número de mulheres no mercado de Segurança da Informação?


"O segmento de tecnologia, de modo geral, foi historicamente dominado por homens e isso não foi diferente quando a área de tecnologia da informação começou a despontar. No entanto, desde então, muita coisa vem mudando", diz Liliana Velásquez Solha (foto), Gerente do Centro de Atendimento a Incidentes de Segurança da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (CAIS/RNP).


Segundo Daniela Regina Barbetti, Analista de Segurança da Equipe de Segurança em Sistemas e Redes da Unicamp, esse cenário é reflexo do mercado de informática. "Observando que a área de informática em geral possui mais homens do que mulheres e que essa é uma característica do mercado de trabalho computacional, conclui-se que o número de mulheres trabalhando com segurança será menor", diz.


Já Marita Maestrelli (foto), responsável pelo serviço de resposta a incidentes de segurança da Coordenação de Engenharia de Operações (CEO) da Rede-Rio, complementa as palavras de Daniela, apontando a exigência de tempo integral. "Outra coisa que contribui para isso é a disponibilidade que o responsável tem que ter, isto é, normalmente 24h/dia", relata.


O começo: tecnologia


Para entendermos como as mulheres desbravaram o mercado de Segurança no Brasil, vamos resgatar a história de algumas profissionais. Além disso, esses depoimentos servirão para relembrar também um pouco da evolução da área de tecnologia da informação.


"Ingressei na área através da Universidade Federal de Santa Catarina, onde me formei em Ciências da Computação. Comecei a trabalhar em projetos que envolviam administração e implantação de redes de computadores. A partir daí, trabalhei mais com esta área do que com outras dentro da Computação", diz Cristine Hoepers, Analista de Segurança Sênior do NIC BR Security Officer (NBSO).


Segundo Renata Cicilini Teixeira (foto), Analista de Segurança Sênior do CAIS/RNP, a paixão pela tecnologia nasceu quando ela era ainda uma adolescente. "Foi aos 14 anos, quando meu melhor amigo na época me convenceu a fazer um curso de programação de computadores na escola de computação do tio dele, em Ribeirão Preto, minha cidade natal. No primeiro curso, de Basic, eu já percebi que era aquilo que queria como profissão. Sou da tribo que acredita que só nos realizamos e conseguimos sucesso quando fazemos o que gostamos", fala.


A companheira de Renata no CAIS/RNP, Liliana Velásquez, conta que seu primeiro contato com um computador aconteceu em 1984. "Até 1988 este contato era apenas como usuária, quando, como estagiária, iniciei atividades de suporte à administração no Centro de Computação da Universidade de Lima-Peru, ainda na época dos computadores de grande porte mainframe IBM, do Cobol e dos cartões perfurados. Assim, continuei o caminho dos computadores de grande porte por mais dois anos, desta vez nos mainframes Digital, que usavam o VAX/VMS como sistema operacional", relata.


Foi também na década de 80 que Marita Maestrelli descobriu seu interesse pela área de tecnologia. "Desde de 1987 trabalho no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), um dos institutos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico do Ministério de Ciência e Tecnologia. Uma das principais áreas desse instituto é a computação e a colaboração científica através de computadores", revela.


Já o apoio da mãe foi fundamental para que Daniela Regina ingressasse na área. "Tudo começou quando, por incentivo da minha mãe, optei pelo colegial técnico. Fiz processamento de dados, depois cursei Análise de Sistemas pela PUCCAMP", diz.


A escolha pela Segurança da Informação


Depois de participarem ativamente da evolução do mercado de tecnologia, em determinado momento da vida dessas cinco profissionais surge a oportunidade de construir uma nova história na área de Segurança da Informação. Na de Marita, do CBPF, apareceu quando o instituto precisava de um profissional que assumisse a área de resposta a incidentes.


O trabalho na área de treinamentos para Unix do Centro de Computação da Unicamp foi o passo decisivo para que Daniela Barbetti iniciasse na área. "Em 1999, o então coordenador geral de informática, professor Clesio Tozzi, decidiu criar uma equipe que pudesse centralizar os incidentes que ocorriam na rede da Universidade. Fui convidada para ser integrante dessa equipe e foi assim que tudo começou", conta.


Já o acaso acabou "dando um empurrão" na vida profissional de Renata Cicilini. "Já lia algo a respeito antes, mas foi em 1996 que me vi envolvida em instalar um firewall e deixar seguros os servidores da rede corporativa da empresa onde trabalhava. Assim, eu e minha amiga de trabalho nos debruçamos sobre o TIS Firewall e acabei gostando do ramo", diz.

As histórias de Liliana Velásquez, do CAIS, e Cristine Hoepers, do NBSO, são parecidas: o trabalho na administração de redes/sistemas acabou sendo o responsável pelo início na área. "Com o passar do tempo, o enfoque do meu trabalho foi se direcionando cada vez mais para a área de segurança. A segurança tornou-se o foco único depois que comecei a trabalhar no NBSO, onde na verdade me dedico a uma parte específica do trabalho com segurança, que é a resposta a incidentes", diz Cristine.


No caso de Liliana, seu envolvimento se inicia justamente na época da abertura da internet comercial no país. "Nesta época, a grande maioria das redes brasileiras ligadas à Internet não estava sendo administrada com preocupação e não se tinha consciência dos problemas e vulnerabilidades de segurança existentes, tornando-se presas fáceis para qualquer hacker iniciante. Foi neste cenário que nasceu o CAIS. Quando fui convidada a participar de sua implantação, integrando a equipe como Analista de Segurança, não pensei duas vezes, aceitei o desafio pois sabia que havia muito trabalho a fazer", relata.


Conselhos para quem inicia


Perguntadas sobre os conselhos que dariam para as mulheres que pretendem iniciar neste mercado, todas as profissionais foram uníssonas em dizer que eles servem tanto para os homens como para as mulheres. "Não dê tanta importância ao fato ser mulher, isto não significa sucesso garantido, fracasso certo, privilégios, nem barreiras difíceis de transpor", explica Renata Cicilini.


Em termos gerais, Marita Maestrelli, Liliana Velásquez e Daniela Barbetti dizem que a profissional deve apresentar o seguinte perfil: ter sólidos conhecimentos na área, buscar conhecimento continuamente, saber trabalhar em equipe, boa comunicação (verbal e escrita) e, além de tudo, "jogo de cintura" para lidar com os diferentes problemas que serão enfrentados no dia-a-dia.


Outro ponto citado pelas profissionais está relacionado com a ética profissional. "Também é muito importante não confundir os conceitos. A ética é muito importante e é a base para os relacionamentos de confiança com outros profissionais. O profissional de segurança que tem ou já teve envolvimento com atividades de 'hacking' está fadado a ficar isolado da maior parte da comunidade", alerta Cristine Hoepers.


Além de todos esses aspectos, Renata faz questão de ressaltar que é fundamental cuidar da saúde emocional, pois os relacionamentos constituem grande parte da base para se trabalhar bem e produzir. "Procure equilibrar trabalho, família, amigos e alguma válvula de escape, como exercícios, hobbies diversos, caminhadas, escaladas, poesias, pintura, astrologia, seja lá o que for que te faça sentir bem consigo mesmo!", orienta.


Mudanças à vista


Diante das experiências relatadas, podemos afirmar que o mercado de Segurança da Informação está passando por profundas transformações. "As mulheres estão vencendo os preconceitos e com isso ganhando cada vez mais espaço nesta área. As empresas aprenderam a valorizar também o conhecimento, a competência e o talento femininos, o que certamente está ajudando as mulheres a terem cada vez mais uma inserção efetiva no mercado de trabalho", afirma Liliana.

Para Daniela Barbetti, o aumento de profissionais de Segurança nas organizações será um dos principais fatores para a mudança deste quadro. "Levando em consideração que muitas empresas ainda estão montando suas equipes voltadas para Segurança da Informação a tendência é que o número de mulheres trabalhando nessa área aumente. Tudo é uma questão de oportunidade", diz.


Entre as análises sobre as possíveis mudanças que a inserção de mulheres trará para este mercado, há espaço até para brincadeiras. "Será sim mais agradável estar no coffee break dos eventos e congressos de segurança e não ouvir aquele uníssono barítono", brinca Renata Cicilini.


Nos Estados Unidos, por exemplo, as mulheres que já atuam neste mercado se uniram e realizaram em setembro o Fórum Executivo de Mulheres em Segurança da Informação (Executive Women's Forum on Information Security).


Desse grupo, uma das mais atuantes é Mary Ann Davidson, Chief Security Officer (CSO) da Oracle. Para a executiva, hoje não há um número baixo de mulheres nesse mercado. "Sou cercada por elas, tenho diversas companheiras trabalhando em minha equipe. Recentemente, acompanhei o Fórum e você ficaria surpreso em ver tantas mulheres trabalhando justamente em Segurança da Informação. Há uma linha comum entre essas profissionais. Todas que conheço apresentam as seguintes características: são francas, fortes e dizem o que pensam - e estas são algumas das exigências do trabalho em Segurança", relata.


Avaliando a afirmação de Mary Ann com a realidade brasileira, constatamos que já há um bom número de mulheres atuando, por exemplo, nos principais grupos de resposta a incidentes de segurança. Será que em 2004 teremos um Fórum reunindo as Mulheres em Segurança da Informação do Brasil? Com a resposta, as profissionais de Segurança do país!


Saiba mais:


1ª Pesquisa Nacional sobre o Perfil do Profissional em Segurança da Informação


Executive Women's Forum on Information Security


Segurança é assunto sério no tráfego de redes de instituições do RJ


Unicamp conta com equipe exclusiva para segurança dos sistemas em rede


CAIS: Disseminando a Segurança da Informação no Brasil


NBSO: Monitoração dos incidentes de segurança de Internet no Brasil

fonte: http://www.modulo.com.br/index.jsp?page=3&catid=7&objid=2572&pagenumber=0&idiom=0

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