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RNP na Mídia 
 

Novidades sobre a Educação a Distância (EAD)


Agência Estado

30.10.2002


Uma das aplicações mais empolgantes das redes de computadores, como a Internet, é seu uso em educação a distância (EAD). Tradicionalmente, a EAD se fazia primeiro por cursos de correspondência usando os correios para comunicação. Depois veio a TV, que possibilita ministrar aulas para os alunos, até com o uso de recursos mais sofisticados de comunicação do que em sala de aula. Entretanto, as aulas pela TV evidentemente não são interativas, e qualquer comunicação no sentido inverso, do aluno ao professor, precisa usar outro canal de comunicação bem menos rápido do que da TV.

O advento da rede de computadores permitiu esta interatividade, provendo maneiras do aluno distante também "falar" com o professor, através do mesmo meio de comunicação. Digo "falar" porque esta comunicação pode ser, e normalmente é, por escrito, embora tecnicamente seja possível se comunicar falando. É tudo uma questão da capacidade da rede e dos equipamentos utilizados. De modo geral, esta interatividade se dá por meio de distribuição de material através da WWW, potencialmente suplementada por aulas transmitidas em vídeo. O canal de retorno do aluno ao professor poderá ser de diversas formas: WWW, correio eletrônico ou chat (mensagens curtas de tempo real). Estes meios requerem pequena capacidade de transmissão da rede e são apropriados em geral para quem tem acesso à rede de casa. Em casas de boa conectividade, poderia ser conduzida uma audioconferência, transmitindo não apenas a voz do professor, como também dos alunos. Entretanto, isto não é geralmente viável hoje por limita ções da infra-estrutura de rede. Uma possível exceção seria nas instituições que hoje possuem boas conexões às redes acadêmicas no país, tais como a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), a Rede Rio (no estado do Rio de Janeiro) ou a rede ANSP (em São Paulo), que geralmente têm melhores condições de trânsito.

A organização da EAD á hoje muito variada. Algumas instituições procuram desenvolver seus próprios programas isoladamente. No Brasil a experiência tecnologicamente mais rica tem sido do IMPA – Instituto de Matemática Pura e Aplicada, tradicional instituição do Rio de Janeiro ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Entre as atividades do IMPA é o aperfeiçoamento de professores do ensino médio realizado desde 1991 através de cursos de curta duração ministradas nas férias escolares, que vêm passando por uma série de evoluções tecnológicas (www.ensinomedio.impa.br). Em 2001 as aulas destes cursos passaram a ser gravadas em vídeo e distribuídas, também via rede de TV educativa. Em 2002 esta atividade passou a usar os recursos da Internet acadêmica no país para transmitir as imagens das aulas ao vivo, e estas transmissões foram recebidas por salas de alunos localizadas em universidades públicas em diferentes cidades do país. Em janeiro, estas aulas foram assistidas em Fortaleza, Recife, Belo Horizonte, Campinas e Porto Alegre, e as transmissões das aulas de julho também foram vistas em Teresina, Maceió, Goiânia e Vitória.

Entretanto, a limitação a cursos de curta duração não esgota as imensas possibilidades abertas pelo grande investimento realizado em ensino superior de qualidade em praticamente todos os países do mundo, e que ainda é mais facilmente aproveitado pelo deslocamento do aluno à universidade, com os custos associados, e as dificuldades de combinar o estudo com outras atividades, sociais ou econômicas, por problemas de horário ou custo. Nestes casos, a EAD oferece uma alternativa viável. Na Grã Bretanha, a Universidade Aberta (www.open.ac.uk) foi criada pelo governo no final dos anos 1960 para atender a esta procura por educação superior. Na época a comunicação entre professor e aluno era pelo correio postal, com raros encontros, que depois vem sendo suplementada por meios mais adiantados. Hoje tem mais de 200.000 alunos, quase todos de tempo parcial, e com 70% com mais de 25 anos. Destes, mais de 150.000 se comunica através da Internet. O programa da Universidade Aberta inclui até cursos de pós-graduação.

No Brasil iniciativas nesta área são bem mais recentes, e oriundas não de ação governamental mas das universidades existentes. Mencionamos aqui duas iniciativas: o CEDERJ e a UniRede. O Consórcio CEDERJ (Centro de Educação Superior a Distância no Estado do Rio de Janeiro), que conta com o apoio do governo estadual, tem como objetivo "expandir o Ensino Superior gratuito e de qualidade pelo Estado, com Cursos de Graduação, Extensão e Especialização. Através de parcerias com as Universidades Públicas sediadas no Estado do Rio de Janeiro – UENF, UERJ, UFF, UFRJ, UFRRJ, UNIRIO – e as Prefeituras Municipais, o consórcio realiza suas atividades curriculares, presenciais ou a distância." (www.cederj.edu.br) As atividades letivas se iniciaram em 2002, com dois cursos de licenciatura (matemática e ciências biológicas) oferecidas para alunos localizados em até 11 cidades do interior do estado. A responsabilidade pela oferta dos cursos e a emissão de diplomas aos aprovados fica com uma ou mais das universidades do consórcio.

A UniRede (www.unirede.br) é um empreendimento bem mais ambicioso que se autodenomina a Universidade Virtual Pública do Brasil, consórcio de 69 instituições públicas de ensino superior, que tem por objetivo "democratizar o acesso à educação de qualidade por meio da oferta de cursos a distância". As instituições consorciadas todas têm experiência em EAD, e resolveram compartilhar entre si as metodologias, tecnologias e conteúdos elaborados separadamente. As grandes diretrizes da UniRede são decididas pelo Conselho dos Representantes (dos consorciados), mas o dia a dia é administrado pelo Conselho Gestor, de sete membros, assistido por uma secretária executiva, e o presidente recém empossado deste conselho é o veterano professor Waldimir Pirró e Longo, da Universidade Federal Fluminense, que ocupa atualmente também o cargo de Diretor do Observatório Nacional (do MCT).

Professor Longo é um engenheiro apaixonado pela educação e fica entusiasmadíssimo quando fala dos novos recursos pedagógicos colocados a sua disposição nos dias de hoje. Numa entrevista publicada em www.unirede.br/informe/061/entrevista/e20020920_61.html, ele adverte para a necessidade de criar iniciativas sólidas nacionais para defender o país da importação de "serviços educacionais" do exterior, e advoga ao Ministério de Educação (MEC) uma oficialização da UniRede como parte da sua política e estratégia de democratização do acesso ao ensino superior público. Isto poderia se dar sob a forma de um núcleo, programa, fundação ou instituição suportada pelo Ministério, a exemplo do CEDERJ, que tem o apoio explícito do governo do estado do Rio de Janeiro. No final da entrevista, professor Longo foi encorajado a sonhar do futuro da UniRede, e percebeu nela o embrião de um sistema de ensino superior capaz realmente a alcançar parte significativa da população, que com a priorização governamental e a utilização de EAD daria uma população de estudantes de nível superior de até 4,5 milhões até 2004. Como fala o próprio Longo, citando o filósofo e poeta espanhol Miguel Unamuno (1864-1936), "Quem sonha o absurdo, acaba fazendo o impossível".

Finalmente, não se pode deixar de registrar a iniciativa OpenCourseWare da Massachusetts Institute of Technology (MIT), que inaugurou no final do mês passado a publicação gradativa dos materiais didáticos usados em seus programas de graduação (http://ocw.mit.edu). A intenção do MIT é demonstrar publicamente a sua visão de como devem ser usados os recursos pedagógicos hoje disponíveis, para que se possam ser comparados com outros e aproveitados quando necessário. Mas, por enquanto, não demonstrou interesse direto em promover EAD, nem em cobrar pelo acesso ao material. Na visão do MIT, para ganhar um diploma da escola, é essencial a presença no seu campus. Do ponto de vista da sua missão educativa, a intenção é combater a comercialização do conhecimento através do seu livre compartilhamento em escala mundial. Inicialmente foram publicados os materiais de uns 20 cadeiras, mas a intenção é realmente publicar todos os 2000 cadeiras oferecidas dentro de 10 anos. As matérias já disponíveis se encontra em ocw.mit.edu/global/all-courses.html.

Enfim, os novos meios de comunicação estão começando ter um impacto mais sério nas atividades tradicionais na área de educação. Talvez a iminente mudança do governo federal e da maioria de governos estaduais dê oportunidade para aproveitar melhor das oportunidades apresentadas

Michael Stanton (michael@ic.uff.br), que é professor titular de redes do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense, escreve neste espaço desde junho de 2000 sobre a interação entre as tecnologias de informação e comunicação e a sociedade. Os textos destas colunas estão disponíveis para consulta.

fonte: http://www.estadao.com.br/tecnologia/coluna/stanton/2002/out/30/213.htm

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